A oferta de ajuda desta natureza foi feita pelo Secretário de Estado-Adjunto norte-amerciano, John J. Sullivan, que está no país para uma visita oficial de 24 horas, que decorre hoje, embora tenha chegado a Luanda no Sábado à noite, com uma agenda de trabalhos que o ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, disse ser de "particular relevo estratégico".

Em declarações aos jornalistas, J. Sullivan manifestou o interesse de Washington em apoiar o esforço das autoridades angolanas na investigação à corrupção e ao peculato que resultou em perdas de muitos milhões para os cofres do Estado, que o próprio Presidente João Lourenço, dias antes admitiu serem pelo menos 4,7 mil milhões USD do erário público utilizado ilegalmente para criar grupos empresariais privados, em resultado do trabalho da comissºao especializada criada para o efeito e no âmbito da legislação aprovada em 2018 para o repatriamento de capitais.

John J. Sullivan lembrou que os EUA possuem equipas "especialmente bem treinadas" que podem ajudar o Governo angolano na "recuperação dos activos" de forma a que estas fortunas sejam "devolvidas ao povo angolano".

O Governante norte-americano, que hoje tem na agenda um encontro com João Lourenço, a quem vai entregar uma mensagem de Donald Trump, disse que os EUA olham com "entusiasmo" para o compromisso do Presidente da República como combate a este tipo de criminalidade e apontou a colaboração de Washington com o Governo da Nigéria como garante de repetição do sucesso da operação com Angola.

Sullivan considerou ainda "muito importante" o combate à corrupção declarado por João Lourenço porque essa é a única via "para restabelecer a confiança" dos investidores internacionais e na agilização da cadeia de negócios que precisa de confiança nas instituições para progredir e crescer.

O governante enviado pela Administração de Donald Trump para uma visita de dois dias ao continente africano lembrou que a escolha incidiu sobre Angola e a África do Sul numa clara demonstração da importância atribuída a estes dois países.

John Sullivan chegou a Luanda com uma intensa agenda, que passa por encontros com empresários e gestores americanos, com a comunidade norte-americana em Angola, com o ministro Manuel Augusto, com organizações da sociedade civil, incluindo activistas dos Direitos Humanos, sendo que a área do comércio e dos negócios entre Angola e os EUA e Angola e o resto do mundo é colocada em destaque.

Juntamente com Augusto, Sullivan vai presidir a uma cerimónia onde este explanará a sua visão da estratégia de Donald Trump para África, e com o ministro do Interior, Ângelo da Veiga Tavares, assinada um memorando de entendimento sobre segurança e ordem pública.

O mundo à mesa

Um dos pontos que devera estar presente nas conversas com Manuel Augusto e com João Lourenço é o problema da crise político-diplomática na Venezuela onde, como se sabe, os EUA estão na linha da frente com combate pelo afastamento de Nicolás Maduro, tendo o Presidente Trump admitido mesmo uma intervenção militar, enquanto Angola, na linha da posição da União Africana e da SADC, pugnam por uma solução interna, sem ingerência e, não de somenos importância, reconhecem a legitimidade democrática ao regime venezuelano.

Sullivan, recorde-se, esteve antes de chegar a Angola na África do Sul, país que sentiu o desagrado de Washinton pela sua votação, tal como a generalidade dos países africanos, contra uma resolução, em Fevereiro, no Conselho de Segurança, contra a Venezuela no âmbito da crise gerada pela proibição de entrada de ajuda humanitária no país pelas autoridades de Caracas.

Mas J. Sullivan é igualmente o "homem" de Trump no importante instrumento da relação dos EUA com África, o AGOA - criada em 2010 por Bill Clinton - , uma espécie de lei norte-americana para fortalecer o crescimento e o desenvolvimento em África através de projectos financiados por Washington, que tem, como pano de fundo, de forma clara, o plano de longo termo para enfrentar a crescente influência das alargadas linhas de crédito de Pequim vertidas para o continente.

E, num dos fóruns recentes que envolveu os EUA e dirigentes das organizações regionais e pan-africanas, como a União Africana, no âmbito do AGOA, Sullivan lembrou, com um forte sublinhado, a ideia de que o "futuro passará seguramente por África" e que os EUA estão atentos a essa realidade.

Apesar de permanentes considerações sobre a urgência de consolidar a democracia e os Direitos Humanos no continente, Sullivan lembrou que "África é o mercado do futuro" e que entre hoje e 2015, "metade do crescimento populacional no mundo vai ocorrer no continente, o que é o mesmo que "dizer que 1,2 mil milhões de novos consumidores vão chegar ao mercado africano".

"Esta grande oportunidade vai chegar com desafios, incluindo a necessidade de garantir empregos para esta crescente população jovem", alertou, sublinhando que, para isso, "a expansão do comércio e do investimento são cruciais para fazer face a este enorme desafio" que África vai enfrentar nos próximos anos.