O projecto, do Instituto Real de Relações Internacionais - Chatham House, em parceria com a Halo Trust, foi apresentado esta segunda-feira durante a conferência "Remoção de Minas, Conservação Natural e Desenvolvimento Económico em Angola" em Londres.

Segundo James Cowan, presidente executivo da Halo Trust, organização não-governamental responsável pela execução do projecto, na região, que abrange um território vasto, formado por Angola, Botswana, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe, vive 50 por cento da população de elefantes do mundo.

A mesma região tem uma grande diversidade de vida selvagem, mas a presença de minas terrestres impede quer o trabalho de ambientalistas quer o uso das terras para agricultura.

Com grande potencial em termos turísticos, o território pode beneficiar globalmente cerca de 500 mil pessoas, de acordo com Adriano Gonçalves, director de Relações Internacionais da Comissão Nacional Intersectorial de Desminagem e Assistência Humanitária (CNIDAH).

A Halo Trust estima que sejam precisos mais 60 milhões de dólares para limpar os campos minados restantes junto aos parques naturais, tendo Cowan lançado um apelo a contribuições para completar o financiamento necessário.

A ministra do Ambiente, Paula Coelho, numa intervenção no final do evento, sublinhou que este investimento não será apenas aplicado na desminagem, mas também na certificação de terrenos limpos, para atrair investidores.

"Angola tem o potencial de abrigar mais elefantes do que tem agora", afirmou Paula Coelho, manifestando ainda a vontade de colaboração com outros países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) para facilitar a circulação destes animais na região.

A conferência foi concluída pelo príncipe Harry, que participou noutros eventos relacionados com a remoção de minas terrestres, seguindo os passos da mãe, que apoiou a campanha ao visitar Angola em 1997.
O príncipe recordou a visita que efectuou em 2013 e o impacto das minas terrestres não só na população, mas também "no ambiente e na vida selvagem, e consequentemente na economia" nacional, fazendo deste um "problema humanitário".

De acordo com um relatório do grupo britânico parlamentar interpartidário sobre Angola, produzido pelo Chatham House, a província do Kuango Kubango é a mais afectada do País, representando 25 por cento do total dos campos minados, correspondente a cerca de 22 quilómetros quadrados.

Recorde-se que, na altura da visita de Diana a Angola, a imprensa dava como garantido que o país tinha mais de 10 milhões de minas em todo o seu território, semeadas pelo conflito antes da independência, a partir de 1961, e após 11 de Novembro de 1975, que, posteriormente, embora sem números exactos, se veio a revelar um número excessivo. Mas, logo após o fim da guerra, em 2002, havia pelo menos 3 mil locais minados no país.

Hoje, segundo o brigadeiro José Domingos de Oliveira, director do Instituto Nacional de Desminagem (INAD), em declarações recentes ao Jornal de Angola, o processo de desminagem corre bem e "estão criadas as estruturas, traçadas as políticas e as estratégias e o instituto desenvolve o seu trabalho em todo o território nacional"

Mas o problema ainda é real e Angola ainda é um dos países mais minados do mundo, como reafirma ainda o responsável pelo INAD.

Entre 1961 e 2002 foram usadas minas, das mais diversas origens, tipos e potências, por vários exércitos e milícias, disse, acrescentando: "Só para ter uma noção, até agora foram identificadas cerca de setenta tipos de minas. Isso fez de Angola um dos países mais minados do mundo. Portanto, apesar de todo o trabalho que já foi realizado pelos distintos actores nacionais e internacionais, ainda existem muitas minas em praticamente todo o país".

E nesta entrevista ao JA, José Domingos Oliveira admite que "Angola possui, ainda, acima de mil campos de minas confirmados", o que ainda condiciona a agricultura no país e alguns projectos de desenvolvimento industrial ou imobiliário, entre outras situações que se alargam a praticamente todo o país.