A convocação de mais uma manifestação foi divulgada por Dito Dali, um dos activistas que organizaram o protesto em nome do Movimento Revolucionário e do Movimento para a Cidadania, ao qual a UNITA e o Bloco Democrático juntaram o seu apoio, numa conferência de imprensa realizada em Luanda.

Como reivindicação para mais este protesto, os organizadores retomam a questão do combate ao desemprego, a marcação das eleições autárquicas e o afastamento de Edeltrudes Costa, chefe de gabinete do Presidente da República, sobre o qual foram divulgadas suspeitas de enriquecimento ilícito numa reportagem da portuguesa TVI, e do presidente da Comissão Nacional Eleitoral.

O activista acusou João Lourenço de ser arrogante que recusa o diálogo com a sociedade civil que, de facto, conta, optando por uma figura sem representatividade que é o líder do Conselho Nacional da Juventude, um Governo que não corresponde aos anseios da população fragilizada e empobrecida e uma lista gigante de problemas sociais para os quais não apresenta soluções.

Face a isto, o activista reafirmou que as ruas são o "escritório" de quem luta por melhores condições de vida para os angolanos e a partir de onde será erguido o "descontentamento" dos jovens face às reivindicações em cia da mesa e que não parecem merecer a consideração do Executivo.

"O Presidente da República tem de se sentar com aqueles que estão nas ruas a reivindicar melhores condições de vida e solução para os problemas e não com o Conselho Nacional da Juventude que não representa a maior parte dos angolanos, apenas os interesses do partido (MPLA)", acusou Dito Dali

Disse ainda este organizador que estas manifestações são uma resposta à desilusão que foi o Presidente João Lourenço, que "emocionou as pessoas no início com os seus discursos", que levaram as pessoas a "sentirem-se incluídas" mas que hoje está evidente que foram apenas "sedução" que conduziu à "decepção" que a realidade mostra mas que ainda "tem tempo para corrigir os erros".

A manifestação de 11 de Novembro, que tem a importância de coincidir simbolicamente com o dia em que o País comemora 45 anos de Independência, sendo que as razões são as mesmas e os riscos são igualmente semelhantes, porque nesse dia, as disposições incluídas no decreto Presidencial de controlo da pandemia da Covid-19 são as mesmas e foram a razão que levou, oficialmente, a polícia a reprimir a manifestação do dia 24.

Nessa manifestação, milhares de jovens saíram à rua e concentraram-se nas imediações do Cemitério da Santana com o intuito de se dirigirem para o Largo 1º de Maio mas a polícia, que deslocou para a zona centenas de efectivos, incluindo da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), das brigadas caninas e da cavalaria, para além dos agentes de Ordem Pública.

Foram detidos 103 jovens, que os organizadores dizem não haver justificação alguma para terem sido detidos, afirmam ainda que há lagas dezenas que estão em paradeiro incerto, e, no momento da repressão policial, os manifestantes acabaram por atear fogo em alguns locais da cidade, foi destruído património público e arderam viaturas.

Os 103 detidos, onde estão incluídos menores, como o Novo Jornal noticiou, estão a ser julgados de forma sumária no TPL "Palácio Dona Joaquina", na baixa de Luanda, sendo que, até ao momento, manhã de quinta-feira, apenas cerca de uma dezena tinham estado perante o juiz, o que deixa antever que este "sumário" poderá levar mais de uma semana até estar concluído.

Durante o protesto de Sábado, forsam detidos pelo menos seis jornalistas, entretanto, depois de, nalguns casos, 72 horas encarcerados, foram libertados, mas isso não impediu que tivesse surgido uma forte condençaõ internacional à repressão da liberdade de imprensa pela polícia angolana.

Entretanto, numa das mais firmes posições oriundas do exterior, como o Novo Jornal também noticiou, o influente Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ), com sede em Nova Iorque, EUA, já condenou a violência policial e apelou às autoridades de Luanda para garantirem que os jornalistas vão passar a ter condições bastantes para poderem exercer a profissão, como a Constituição impõe, de forma livre e ser o cerceamento constante das forças de segurança.