A frase "o Presidente está na rua", utilizada incontáveis vezes ao longo dos 38 anos de liderança de José Eduardo dos Santos - para ilustrar momentos de excesso de militares nas estradas e de condicionamentos ao trânsito - parece ter passado à História.

Depois de terem circulado, nas redes sociais, relatos de uma visita discreta do Chefe de Estado e da primeira-dama ao Cardeal Dom Alexandre Nascimento, quando o mesmo esteve internado numa das clínicas de Luanda, ontem foi a vez de populares, ouvidos pelo Novo Jornal Online, comentarem a falta de aparato militar das deslocações presidenciais.

Esse foi o caso do cidadão António Ramos Abreu, que ficou surpreendido pela tranquilidade que encontrou ao passar ontem junto do edifício da Assembleia Nacional, num dia marcado pelo discurso do Chefe de Estado sobre o Estado da Nação.

"Mas o Presidente está mesmo lá dentro?", interrogou-se, perplexo por não ter sido interpelado por nenhuma força de segurança.

"Vi apenas três viaturas com militares e deixaram-me passar normalmente. É bom princípio", regozijou-se.

A imagem de um João Lourenço descontraído, a cumprimentar as pessoas sem um cordão de segurança intransponível, também saltou à vista do antigo combatente, Rosário Fangay.

"Ele já disse na sua investidura que seria o Presidente de todos os angolanos e que iria trabalhar na melhoria das condições de vida e bem-estar de todo o povo. O que estamos aqui ver é o princípio do cumprimento das suas promessas", sublinhou ao Novo Jornal Online Rosário Fangay, descrevendo João Lourenço com um "homem próximo ao povo".

As primeiras impressões sobre a nova liderança política do país também se notaram no interior da Assembleia Nacional, igualmente aliviado dos anteriores constrangimentos de segurança.

Figuras de relevo do Executivo, da sociedade civil e diplomatas trocavam impressões com jornalistas, sem quaisquer interpelações por parte dos elementos da segurança, ao contrário do que era hábito.

"É um verdadeiro ambiente de tranquilidade", resumiu um dos jornalistas presentes na cobertura da primeira sessão legislativa da IV Legislatura.

No local, o Novo Jornal Online constatou que a Assembleia Nacional "despiu-se" ontem do habitual aparato militar e dos membros dos serviços de segurança que, no passado, incomodavam os próprios deputados, convidados e especialmente os jornalistas.

A entrada no recinto foi pacífica e a equipa do protocolo, bem organizado, direccionava para os respectivos lugares de forma serena as mais de 1.000 pessoas que testemunharam a abertura da nova Legislatura.

"Só estão limitados os jornalistas que não estão credenciados. Cumpridas todas as formalidades não há impedimento", observou ao Novo Jornal Online uma agente da segurança na porta principal, via de acesso normal aos deputados, membros do Governo, altas autoridades civis, militares, religiosas e membros do corpo diplomático.

"O clima mudou estamos de parabéns", sintetizou um funcionário da Assembleia Nacional.

História da nova sede

A nova Assembleia Nacional tem capacidade para albergar 1.200 pessoas nas várias salas de reuniões, e conta com 4.600 assentos, dos quais 1.400 destinados a convidados.

Dos grandes números do empreendimento, destacam-se a utilização de 11 mil toneladas de aço, 70 mil metros cúbicos de betão e 370 toneladas de estrutura metálica. Foram utilizados no imóvel cabos de potência de baixa tensão equivalentes a 500 quilómetros.

A empreitada esteve a cargo do Gabinete de Obras Especiais, com fiscalização da Dar-Al-Handasah e o empreiteiro geral a empresa portuguesa Teixeira Duarte.

A primeira pedra do novo edifício foi lançada pelo ex-Presidente da República a 15 de Outubro de 2009. Os trabalhos de construção tiveram início a 17 de Maio de 2010.

A infra-estrutura está dividida em quatro blocos de seis pisos, dois dos quais em cave. O estacionamento nas caves totaliza 494 lugares, dos quais 34 são VIP e os restantes gerais.

Participaram na construção do edifício cinco mil e 176 trabalhadores, 88% dos quais nacionais e os restantes 12% expatriados. No pico das obras, asseguraram o trabalho 800 nacionais e expatriados.