O que está mal em Angola e o que é preciso melhorar? A pergunta animou acesos debates nos últimos meses, à boleia das omissões que acompanharam a campanha do MPLA às eleições gerais de 23 de Agosto.

Afinal, embora o partido no poder se tenha comprometido com a mudança - no sentido de "Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal" -, em nenhum momento identificou de forma clara os focos dessa transformação.

Apesar de João Lourenço ter apontado as ideias mestras do seu programa de governação - que mereceram aqui uma análise do sociólogo Paulo de Carvalho -, nunca chegou a discuti-las em função do que tem resultado na gestão do MPLA ou do que tem falhado.

Apesar de João Lourenço ter apontado as ideias mestras do seu programa de governação - que mereceram aqui uma análise do sociólogo Paulo de Carvalho -, nunca chegou a discuti-las em função do que tem resultado na gestão do MPLA ou do que tem falhado.

Isso mesmo constatou o economista Alves da Rocha, num artigo de opinião publicado em Maio no semanário Expansão.

"Depois de ter lido com a atenção que merece este Programa de Governação não me apercebi de nenhuma medida das quase nove centenas dirigida a corrigir o que está mal. Até porque não se chega a perceber, na verdade, o que é que está afinal mal", escreveu o especialista, assinalando, igualmente, a dificuldade dos "Camaradas" para especificar os bons resultados.

Considera-se que havendo coisas que estão bem, parece que não estão assim tão bem, pois há-que melhorá-las. Quais? É que o Programa de Governação do MPLA para 2017-2022 não as identifica explicitamente e com metas, limitando-se ao verbalismo corriqueiro de "combater todas as formas de corrupção... (página 58)", ou "promover a melhoria contínua do ambiente de negócios através da simplificação do enquadramento institucional-legal .... (página 59) (1)", ou "promover a investigação científica (páginas 46)" ou, finalmente, "garantir a eficiência e transparência do processo de contratação pública (página 25)", concretizou Alves da Rocha.

O director e coordenador do Centro de Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola considerou ainda que o lema adoptado "contém uma crítica implícita à governação de José Eduardo dos Santos".

Ficou apenas por dizer que o "mea culpa" surgiu do próprio Presidente da República cessante.

Há precisamente cinco anos, no discurso de investidura para mais um mandato, o Chefe de Estado fazia a apologia do Manifesto Eleitoral e de Governação do MPLA quando puxou das palavras que marcaram a corrida eleitoral do seu sucessor, João Lourenço.

"Esses dois documentos reitores apontam como seu objectivo a construção de uma sociedade democrática, inclusiva, de progresso, bem-estar e justiça social. A sua aplicação pelo Executivo que vou dirigir assentará no princípio da renovação e da continuidade para renovar e corrigir o que está mal, dar continuidade e melhorar o que está bem e iniciar novas obras", antecipava José Eduardo dos Santos.

Cinco anos depois, João Lourenço retomou o discurso do antecessor. Resta ver se fará o mesmo com as acções.