O actual Chefe de Estado e o ex-Presidente da República poderão estar hoje pela primeira vez juntos em público depois da conferência de imprensa de José Eduardo dos Santos, no dia 21 de Novembro, para garantir aos angolanos que não deixou os cofres vazios conforme havia afirmado João Lourenço na entrevista concedida cinco dias antes ao jornal português Expresso.

Nesta mesma entrevista, João Lourenço criticou a forma como o seu antecessor no cargo, José Eduardo dos Santos, procedeu na fase de transição do poder, dizendo que não houve uma "verdadeira passagem de pasta", o que o obrigou, nos primeiros meses no Palácio da Cidade Alta, a um trabalho redobrado para se inteirar da real situação do país.

"Esperava uma verdadeira passagem de pasta em que me fosse dado a conhecer os grandes dossiês do país e isso, de facto, não aconteceu", lamentou João Lourenço, que aproveitou ainda para dizer que esse momento de transição foi quando se deu conta da "anormalidade" dos últimos actos do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

"Estivemos diante de uma anormalidade, com despachos feitos em vésperas da minha investidura, nomeadamente, entre outros, sobre o porto da Barra do Dande, para favorecer quem pretendiam favorecer", disse o Chefe de Estado na entrevista publica no dia 17 de Novembro, numa clara alusão à concessão da obra a uma empresa ligada à sua filha, Isabel dos Santos, a Atlantic Ventures.

A resposta do ex-Presidente da República chegou cinco dias depois, numa conferência de imprensa na nova sede da Fundação Eduardo dos Santos, em que garantiu ter deixado mais de 15 mil milhões de dólares nas contas do Banco Nacional de Angola (BNA).

"Vou começar por dizer que não deixei os cofres do Estado vazios, quando na segunda quinzena do mês de Setembro de 2017 fiz a entrega das minhas funções ao novo Presidente da república. Nessa altura, nas contas do Banco Nacional de Angola, estavam mais de 15 mil milhões de dólares como reservas internacionais liquidas. O gestor dessas contas era o senhor governador do BNA (Valter Filipe)".

José Eduardo dos Santos afirmou a necessidade de "prestar alguns esclarecimentos" sobre a forma como conduziu a coisa pública durante os 38 anos de Governo, sem, no entanto, mostrar qualquer disponibilidade para responder a perguntas dos jornalistas.

"Apesar da crise provocada pela redução do preço do petróleo bruto, que chegou até aos 38 dólares por barril, nós tínhamos a economia sob controlo", disse o antigo Presidente, acrescentando que a moeda não sofreu desvalorizações, os salários dos funcionários públicos, incluindo o 13.º mês, foram pagos regularmente, e o poder de compra dos salários foi mantido, havendo lugar a actualizações, em função da taxa de inflacção.

"Com a produção nacional e com alguns produtos importados garantimos os produtos da cesta básica e as matérias-primas para indústrias e material para construção, afirmou ainda José Eduardo dos santos.

Confrontando em Lisboa, a 22 de Novembro, na sua visita de Estado a Portugal, com as declarações do dia anterior de José Eduardo dos Santos, João Lourenço remeteu uma resposta para o regresso a Luanda (25 de Novembro), o que ainda não aconteceu.

Nesta VI reunião ordinária do órgão deliberativo máximo entre congressos vai analisar a metodologia para a composição, selecção e regulamentos que irão definir os critérios e perfis de futuros candidatos do partido às autárquicas, nomeadamente cabeças-de-lista e membros das assembleias municipais, no seguimento da intenção do partido de realizar eleições internas para escolher os candidatos às primeiras eleições autárquicas do país, previstas para 2020.

Em cima da mesa vai estar também a análise das informações sobre o Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018/2022, bem como a Proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019, a ser votada no Parlamento a 14 de Dezembro e um ponto de situação do sector da saúde.

Está ainda previsto, no plano estritamente partidário, o Comité Central debater o Plano de Actividades do MPLA para 2019 e o orçamento para o mesmo período, bem como a análise e aprovação do Código de Ética Partidária, documento que vai demarcar comportamentos e práticas dos militantes na sociedade.

Os trabalhos da reunião, que se prolongam até sábado no Complexo Futungo 2, em Belas, arredores de Luanda, abrem hoje às 10:00 com o discurso de João Lourenço.