A ideia de que a chegada de João Lourenço ao poder abriu uma "caça às bruxas" no país, traduzida no afastamento de várias figuras de peso na anterior governação, com destaque para a retirada dos filhos de José Eduardo dos Santos de posições-chave, tornou-se um tabu para Tchizé dos Santos, a avaliar pelas mais recentes declarações à agência Lusa.

"Eu não posso afirmar isso [ que existe uma caça às bruxas], porque se afirmar isso se calhar saio daqui e sou processada pelo Presidente da República por difamação", disse a deputada, sublinhando: "Não quero ser um segundo Rafael Marques".

Apesar de assumir o cuidado em medir as palavras, a deputada mantém o tom crítico em relação à actual governação.

"O corrigir o que está mal também passa por deixarmos de vivermos num Estado em que a única pessoa que pode ter opinião é o Presidente da República, a única pessoa que pode aparecer, brilhar e ser aplaudida é o Presidente da República. Numa democracia, num país, há vários actores, em várias áreas", apontou.

Desiludida com o processo de transição, a deputada defende que "não era a transição que nenhum dos angolanos esperava".

"Para mim, a transição era uma festa, um momento ímpar e havia ali uma transição extremamente pacífica e sem contradições. Entretanto, pelas declarações do ex-Presidente e do actual Presidente, há uma contradição pública", assinalou, em alusão à polémica sobre os cofres vazios.

Tchizé dos Santos acrescentou que essa contradição "não é desejável para nenhum partido politico", e lembrou que o o Governo deve "apenas priorizar o que é de facto importante". A este nível, a empresária assinalou que "há mais angolanos a passar fome do que há um ano atrás, há dois anos atrás, há três anos atrás".

Perante este cenário, a deputada considera que o país arrisca "perder uma grande oportunidade de fazer um "restart" [recomeço]", na actual liderança de João Lourenço, clarificando que "restart" não quer dizer que se vai perdoar incondicionalmente os erros todos que acontecerem para trás e as pessoas que cometeram uma série de erros que afectaram todos".

A empresária salientou ainda que a "Angola que todos sonhamos, que José Eduardo dos Santos, apesar de ser odiado por muitos, mas que é amado por muitos mais, construiu connosco é uma Angola do diálogo, da conciliação, do perdão e da reflexão e da projecção do futuro".

Em defesa do legado paterno, Tchizé dos Santos reforçou que "José Eduardo dos Santos fez questão que a democracia angolana fosse irreversível", ao decidir não se recandidatar.

"Acho que devemos saber honrar esse exemplo, único em África (...) Então, agora vamos aceitar que por conveniência politica - porque política é conveniência - por bajulação, por adoração, por incompreensão dos tempos ou incapacidade de leitura da Historia se continuem a cometer os mesmos erros?", questionou.