Marcelo Rebelo de Sousa colocou logo no dia 26, três dias depois das eleições, uma nota no site da Presidência da República portuguesa onde felicita João Lourenço pela sua vitória eleitoral e sublinha os "laços fraternais" que unem Angola e Portugal.

Desta forma, Portugal e Marcelo ficavam claramente na "pole position" dos países e chefes de Estado que, ao mesmo tempo que felicitavam o Presidente eleito, davam um contributo claro na consolidação dos resultados na forma de reconhecimento internacional quando ainda eram apenas provisórios e estavam a ser fortemente contestados pela oposição.

Com este gesto, Marcelo Rebelo de Sousa, homem conhecido por nada fazer sem levar em linha de conta todas as consequências dos seus actos, não terá ignorado que Portugal e Angola atravessam, desde o início deste ano, uma severa crise nas suas relações bilaterais no patamar governamental.

Por detrás desta nova crise entre Lisboa e Luanda esteve a operação judicial baptizada de "Fizz", que envolve figuras de destaque da política angolana, conduzida pelo Ministério Público português, tendo culminado com o adiamento "sine die" da visita da ministra portuguesa da Justiça, Francisca Van-Dúnen, que já estava agendada, e deixou em "stand by" a também já alinhavada visita do primeiro-ministro português, António Costa, por decisão das autoridades angolanas, que informaram o Governo de Lisboa sobre a inadequação desta ao momento, nomeadamente o momento pré-eleitoral.

"A visita da Ministra da Justiça foi adiada, a pedido das autoridades angolanas, aguardando-se o seu reagendamento", lembrava o Governo português em comunicado no dia 21 de Janeiro deste ano.

A deslocação de Francisca Van-Dúnen a Luanda estava agendada de 22 a 24 de Fevereiro e foi anunciada pelo chefe da Diplomacia lusa, Augusto Santos Silva, durante uma visita a Angola, que tinha ocorrida dias antes e que tinha sido apontada como sendo um passo preparatório para a visita do primeiro-ministro português para breve.

O chefe da Diplomacia de Portugal, durante a sua visita a Angola tinha classificado as relações entre os dois países de "muito ricas e muito densas".

Com a presença assegurada do Chefe de Estado português fica confirmado que o primeiro-ministro, António Costa, apesar de ter afirmado publicamente que gostaria de ser ele a estar presente na cerimónia de tomada de posse de João Lourenço, não virá a Luanda, protelando, mais uma vez, a sua deslocação a Angola, mas deixando espaço diplomático a Marcelo Rebelo de Sousa para diluir a clara tensão que surgiu no início deste ano entre os dois países.

Não se sabe quais as razões que levaram a que Portugal tenha optado por Marcelo no lugar de António Costa, até porque o próprio primeiro-ministro tinha afirmado numa entrevista que considerava "normal" que fosse ele a representar Portugal na ocasião, mas sabe-se que na 72ª Assembleia Geral da ONU, que tem lugar na mesma altura, Portugal será representado pelo chefe do Governo quando o normal seria ir a Nova Iorque o Chefe de Estado.

O executivo português estará representado na tomada de posse de João Lourenço pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.