Estas declarações foram proferidas hoje por Pedro Sebastião, em conferência de imprensa, na Cidade Alta, a propósito da polémica em torno da entrega da urna com os restos mortais de Jonas Savimbi, à UNITA e à família.

Na terça-feira, Pedro Sebastião deslocou-se ao Andulo, no Bié, para entregar a urna à UNITA e à família de Jonas Savimbi mas os familiares e a direcção da UNITA estavam no Kuito a aguardar pelos restos mortais do seu presidente fundador, gerando uma acesa polémica, alegadamente por desencontro do programa que deveria estar consolidado no âmbito da comissão mista que integra membros do Executivo, da família e da UNITA.

"O programa que a UNITA elaborou é da sua iniciativa. Não foi acordado na reunião da comissão mista. O que ficou ali acordado - garante - é que os restos mortais deveriam ter sido inumados (sepultados definitivamente) hoje e não no Sábado, como afirma a UNITA", disse o ministro de Estado.

Recorde-se que a UNITA tem uma versão contrária e o seu presidente, Isaías Samakuva, disse ontem, no Kuito, que foi o Governo que criou este problema ao não cumprir com o que estava previamente decidido.

"UNITA quer aproveitar-se politicamente deste momento"

Pedro Sebastião acrescentou, ainda na mesma conferência de imprensa, que "não existe nenhuma intenção de fazer refém" os restos mortais de Jonas Savimbi e que o Governo "sempre se mostrou aberto para discutir todos os pormenores do programa das exéquias fúnebres do líder histórico da UNITA.

"Nós estamos abertos a que, em qualquer altura, se os filhos solicitarem o corpo, o Governo o vai entregar imediatamente, mas a UNITA quer fazer um aproveitamento político desta situação e isso não aceitamos", garantiu.

O governante disse ainda que vai estar presente na cerimónia de inumação dos restos mortais de Jonas Savimbi porque foi incumbido dessa tarefa pelo Presidente da República, o que quer dizer que se for cumprido o calendário estabelecido pela UNITA de esse momento acontecer no próximo Sábado, dia 01 de Junho, Pedro Sebastião estará presente na aldeia de Lopitanga, Bié, terra natal do histórico líder do "Galo Negro".

Face ao avolumar de tensão neste processo entre a direcção da UNITA e o Governo, o presidente Isaías Samakuva enviou uma missiva ao Presidente da República, João Lourenço, cujo conteúdo não foi revelado mas que se pode presumir ser a manifestação da indignação do partido com o que está a suceder.

Entretanto, também os filhos de Jonas Savimbi vieram a terreiro posicionar-se, afirmando estarem ao lado da UNITA neste processo, recusando a tentativa do ministro de Estado de separar uma da outra, por não fazer sentido nem histórico nem social nem na tradição familiar e política.

Recorde-se que na terça-feira, Pedro Sebastião fez saber que o que estava combinado era proceder à entrega dos restos mortais de Savimbi no Andulo, para onde a urna seguiu a partir do Luena, no Moxico, enquanto o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, e a restante comitiva, incluindo os jornalistas escolhidos pelo partido, e os familiares de Jonas Savimbi, se deslocaram para o aeroporto do Kuito, onde aguardaram o dia inteiro em vão.

Urna depositada em unidade militar

Pedro Sebastião acusou mesmo a UNITA de ter um outro programa paralelo, que, segundo disse, não vai ser cumprido.

A urna com os restos mortais de Jonas Malheiro Savimbi foi depositada numa unidade militar do Andulo, que ficou, assim, como sua fiel depositária até que, disse Pedro Sebastião na terça-feira, a UNITA ou a família a fossem buscar.

No entanto, como acaba de ser dito pelo líder da parte do Governo na comissão mista, agora só a família poderá proceder ao levantamento da urna que contém as ossadas de Savimbi provenientes do cemitério do Luena, onde foi enterrado em 2002, depois de ter sido abatido em combate.

Chivukuvuku apela ao bom senso

Entertanto, já hoje, o antigo dirigente da UNITA e líder da CASA-CE até há pouco tempo, Abel Chivukuvuku, apelou hoje ao diálogo entre todos os envolvidos no processo de inumação de Jonas Savimbi.

Para além do diálogo, Chivukuvulu apelou ainda ao bom senso porque só assim será possível ultrapassar este diferendo.

Até 2012, foi dirigente da UNITA e, por isso, Abel Chivukuvuku garantiu hoje em conferência de imprensa que é "produto de formação política da escola do Doutor Jonas Malheiro Savimbi" e, por isso, queria estar presente na cerimónia de enterro dos seus restos mortais, mas, devido ao período de convalescença que ainda se encontra, não o fará.

Teceu ainda elogios ao Presidente da República por ter assumido este processo como de resolução prioritária.

O papel do Presidente João Lourenço deve ser reconhecido porquer foi essencial para a libertação de Savimbi da "prisão" onde esteve durante 17 anos mesmo morto, disse, referindo-se ao facto de a família do fundador da UNITA ter estado todos estes anos a aguardar pelos restos mortais do seu familiar que estava, oficialmente, à guarda do Governo desde o momento em que foi enterrado pelas tropas governamentais após a sua morte, em 2002.