O lema deste debate da agenda oficial é, visando especialmente a RDC, a RCA, a Líbia, o Sudão, o Sudão do Sul, o Burundi e a Somália, "Ano dos refugiados, dos repatriados, deslocados internos: Rumo a soluções duradouras para a deslocação forçada em África".

Nesta Cimeira, onde Angola se fez representar, na ausência do Presidente João Lourenço, pelo ministro das Relações Exteriores (MIREX), Manuel Augusto, a agenda foi desdobrada por dois temas maiores entre o leque alargado de preocupações do continente africano, a questão dos refugiados e deslocados e a discussão sobre o passaporte africano, documento único que deverá em breve unir todos os africanos sob a mesma liberdade de movimento.

Da parte angolana, como noticiaram os órgãos de comunicação social estatais que acompanharam a delegação que saiu de Luanda liderada pelo MIREX Manuel Augusto, o foco foi colocado nas discussões de âmbito político-diplomático, com destaque para um encontro com o Presidente cessante da UA, o ruandês Paul Kagame, e ainda numa conversa alargada com Matt Harrington, secretário de Estado-adjunto dos EUA para a África Austral, onde em cima da mesa esteve a análise dos interesses comuns aos dois países versando o continente africano.

Recorde-se que tanto Washington como Luanda, sempre que ocorrem encontros bilaterais de âmbito político, sublinham a traço grosso a forma como os dois países procuram consolidar a cooperação e encontrar pontos comuns na forma como olham para as grandes questões pan-africanas, com destaque para o papel de Angola nos esforços continentais e sub-regionais para por fim a conflitos ou crises políticas e militares.

Na abertura da Cimeira, o destaque da imprensa internacional foi, todavia, ara a presença de três convidados especiais: o fundador da Microsoft, Bill Gates, o presidente da FIFA, Gianni Infantino e a do director-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom, para além do novo Presidente da organização pan-africana, el-Sisi, ou ainda as mais regulares presenças do Se3cretário-Geral da ONU, António Guterres e da Autoridade Palestina, Mahmoud-Abbas.

O que disse el-Sisi

O Presidente egípcio, que assume a liderança da UA, deixou claro que a sua prioridade para os próximos 12 meses, tempo de duração do seu mandato, que é estatutariamente rotativo, a "melhoria da eficácia dos mecanismos da UA na procura de garantir a paz e a estabilidade".

Para o novo líder da União Africana, a "mediação e a diplomacia preventiva vão continuar na linha da frente das prioridades" da organização continental.

A questão do terrorismo, com especial incidência nos últimos anos no Egipto, mereceu igualmente a tenção de Abdel el-Sisi, dizendo que para consolidar a eficácia das medidas visando o "contra-terrorismo requere-se a identificação de todos aqueles que apoiam e financiam o terrorismo e estabelecendo regras para o seu combate de forma colectiva", embora admita estar ciente da complexidade e dificuldade que este combate representa.

Este olhar sobre o problema é, para o Presidente do Egipto, fulcral para que o mundo, e em especial o continente africano, possa "erradicar o terrorismo" de uma vez por todas, "esmagando-o".

Sisi e os Direitos Humanos

Na chegada do Egipto à liderança da UA, o passado recente e turbulento deste país, que viu uma das mais violentas "primaveras árabes" estalar no seu interior, não deixou de ser lembrado por algumas organizações internacionais de defesa dos Direitos Humanos.

Uma das organizações foi a Amnistia Internacional, que alertou para a possibilidade de Abdel el-Sisi, pelo seu passado, pela forma como chegou ao poder, com recurso à força enquanto líder militar, apesar de posteriormente confirmado em eleições que levantaram muitas dúvidas, poder não resistir à destruição dos mecanismos internos da União Europeia de protecção dos Direitos Humanos.

Isto, porque, segundo esta organização, a sua liderança, no seu país, está claramente marcada pela deterioração clara dos Direitos Humanos, considerando mesmo que se trata de "uma catástrofe que atingiu as liberdades e os Direitos Humanos" no Egipto.

Alias, a acusação vai ainda no sentido de que o Egipto, desde 2015, ano do início da sua Presidência, tem "apostado forte no ataque aos mecanismos da UA dedicados aos Direitos Humanos", mantendo uma "orquestrada e empenhada estratégia que visa debilitar estas estruturas internas da UA" devido às críticas de que foi alvo.