"Ninguém toma medidas para salvar esta população?", interroga-se, admitindo que "a qualquer momento pode haver um desastre".

A preocupação de Pedro Bondo é extensiva a de milhares de cidadãos que vivem neste bairro.

"Já reclamámos junto das autoridades competentes, mas ninguém nos escuta", queixa-se a moradora Antónia de Jesus.

A vendedora ambulante Cristina de Carvalho só ainda não mudou do bairro porque não tem condições para erguer uma nova moradia noutra área da cidade.

"Deus é que nos protege, caso contrário seria uma tragedia", expôs.

Os seguranças da linha de enchimento de gás estão atentos aos garotos que vivem próximo da fábrica.

"Não deixamos que eles se aproximem daqui", contou ao Novo Jornal Online Pedro Bento, um efectivo em serviço.

A casa do funcionário público Pedro Nganzi está a 40 metros da linha de enchimento de gás. Os seus nove filhos já estão avisados para não se aproximarem do morro que limita a fábrica e a sua casa.

"Eles (os filhos) já estão instruídos", resumiu.

Para o morador Pedro Mavango, a intenção dos habitantes do bairro é abandonar o mesmo, mas, infelizmente, o Governo não identificou outro sítio para estes se instalarem.

"Algumas casas estão sinalizadas, mas até agora ainda não disseram nada", conta o carpinteiro de 37 anos.

Na opinião de outro morador, Amadeu Júlio, o Governo deve trabalhar na criação de condições de realojamento dos moradores do bairro São Pedro da Barra por se encontrarem numa área de risco.

O turista espanhol Javier Guilhermo, que foi visitar a fortaleza de São Pedro da Barra, ficou pasmado ao constatar que há pessoas a morar junto dos reservatórios.

"Não é possível acontecer isso", disse, admirado.

O museu, actualmente, encontra-se em precárias condições de conservação. Propriedade do Estado, é controlado pelos Ministérios da Defesa e da Cultura.

As autoridades, diz o reformado João Panzo, "só vão tomar medidas quando um dia ouvirem notícias ruins sobre os moradores do bairro".

Um militar que cuida da fortaleza de São Pedro da Barra está informado com o ambiente do bairro e sugere a tomada de medidas "urgentes".

"Para além da degradação do bairro, os tanques de combustível é um perigo iminente", alerta o militar que não quis identificar-se.

Camiões cisternas de combustível destroem as ruas

As ruas cheias de buracos têm deixado a população preocupada. A erosão tomou conta de boa parte das vias e sobrou pouco espaço para os carros andarem.

Os moradores responsabilizam os camiões com cisternas de combustível que todos os dias transportam os derivados de petróleo nos reservatórios.

"Só carregam e não velam pelo estado das ruas do bairro", queixam-se os moradores.

De há cinco anos para cá, alguns empresários predispuseram-se a apoiar a reabilitação da rua direita da Fortaleza São Pedro da Barra, que estava degradada.

"De lá para cá ninguém fez mais nada", protesta o morador António Neto Bembe.

Se os buracos são preocupação para a população, os taxistas consideram a via de São Pedro da Barra uma fonte de rendimento.

"Devido aos buracos, muitos motoristas fogem de entrar no bairro. Os que têm boas viaturas facturam", conta o taxista Eduardo Bambi.

A chuva que atingiu a cidade de Luanda nos últimos dias aumentou a presença de buracos nas ruas de são Pedro da Barra.

"Até que a chuva pare, 90 por cento das ruas estarão destruídas", afirma António Cabral, um dos camionistas que diariamente transporta derivados de petróleo para os tanques de São Pedro da Barra.

Delinquência é uma outra marca

Para além dos tanques de combustível, a delinquência no bairro preocupa os moradores, o que exigiria das autoridades uma pronta reacção.

"As noites não são pacíficas. Os assaltantes roubam e ninguém toma medidas", lamentam os moradores.

O bairro tem uma unidade da polícia, mas não é suficiente para travar as acções assustadoras dos delinquentes.

"É necessário mais esquadras móveis no bairro, caso contrário estamos tramados", receia o estudante Januário Cameia.

O Novo Jornal Online tentou, sem sucesso, ouvir as autoridades governamentais locais.