Depois da guerra, os trilhos de Toto Yumbi Willy e Kokolomani Ngand Clemente cruzaram-se, já em Luanda, onde imediatamente se reconheceram como iguais. Ambos médicos, ambos foragidos da guerra (1961-1974) ainda meninos, ambos formados na RDC, ambos regressados a Angola com o país novamente mergulhado numa guerra (1975-2002), enfileirando as trincheiras da UNITA, onde prestaram cuidados de saúde a quem combatia e se escondia na mata.

Mas o caminho tornou-se-lhes paralelo quando bateram à porta do presidente do Conselho Regional Norte da Ordem dos Médicos de Angola, Josenando Teófilo, também ele formado em medicina pela Universidade de Kinshasa, na RDC.

Josenando Teófilo, que lhes terá prometido celeridade no processo de atribuição da carteira profissional se, em troca, trabalhassem por um período de um ano no seu Centro Médico, "dois anos depois, ainda não tinha cumprido o que prometeu", obrigando-os a "trabalhar como clandestinos e a receber metade do salário a que os médicos legalizados tinham direito".

Descontentes, os candidatos à obtenção da carteira profissional dos médicos revoltaram-se e deixaram a clínica privada de Josenando Teófilo, exigindo apenas a sua inscrição na Ordem dos Médicos de Angola.

Toto Yumbi Willy e Kokolomani Ngand Clemente contam que o então presidente do Conselho Regional Norte da Ordem dos Médicos de Angola os ameaçou, garantindo-lhes que nunca obteriam a carteira profissional que lhes permitiria o exercício da profissão.

Desde então, o destino de ambos terá sido marcado a ferro e fogo. Tornaram-se irmãos numa demanda contra a guerra da burocracia institucional, pois, segundo afirmam, é com base em acusações de Josenando Teófilo que o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Pinto de Sousa, tem recusado atribuir-lhes a carteira profissional.

Os cidadãos acusam mesmo Carlos Pinto de Sousa de "subalternização" em relação ao antigo presidente do Conselho Regional Norte da Ordem dos Médicos de Angola, Josenando Teófilo, por, até agora, não se ter pronunciado sobre o processo, exigindo documento sobre documento e depois desconfiando da sua autenticidade.

Toto Yumbi Willy e Kokolomani Ngand Clemente, que vivem da ajuda da família e da igreja, possuem os diplomas que comprovam a sua formação em medicina e a documentação que atesta o reconhecimento da sua formação, incluindo um relatório de estágio com boas referências do Hospital Josina Machel e uma declaração do reconhecimento de equivalências, emitida pela Universidade Agostinho Neto.

Mas bastaria o parecer do Instituto Nacional de Avaliação, Acreditação e Reconhecimento de Estudos do Ensino superior (INAREES), que tem a competência para "proceder ao reconhecimento de graus, títulos, e outros documentos académicos que certificam estudos de ensino superior feitos no país", de acordo com o Decreto 172/13, de 29 de Outubro.

O Novo jornal Online acompanhou Toto Yumbi Willy e Kokolomani Ngand Clemente ao INAREES, procurando saber se o documento do Instituto que ambos possuem é verdadeiro, depois de ter contactado o antigo presidente do Conselho Regional Norte da Ordem dos Médicos de Angola, Josenando Teófilo, e de este ter dito que os documentos que os médicos têm apresentado são falsos.

Chegados ao INAREES, onde todos quantos fomos encontrando reconheciam Toto Yumbi Willy e Kokolomani Ngand Clemente e a sua interminável luta pelo reconhecimento da sua formação e obtenção da carteira profissional, fomos recebidos pelo director e pelo director-adjunto que, não só reconheceram os documentos, como revelaram estranhar que a Ordem dos Médicos de Angola nunca lhes tivesse feito o pedido de verificação da autenticidade do documento emitido pelo Instituto Nacional de Avaliação, Acreditação e Reconhecimento de Estudos do Ensino superior.

Dispostos a que seja verificado, novamente, todo o seu processo, Toto Yumbi Willy e Kokolomani Ngand Clemente concordaram em deixar um pedido de verificação da veracidade da sua formação no INAAREES, assinado também pelo Novo Jornal Online, que vai acompanhar este processo até que a Ordem dos Médicos emita o seu parecer definitivo, dando um desfecho a esta luta de mais de dez anos de dois cidadãos angolanos que tentam provar que são o que dizem ser: Médicos.

De recordar que Angola precisa de médicos e que o país tem 6.400 médicos para uma população de cerca de 28 milhões de habitantes, o que quer dizer que há um médico para cerca de 4.400 habitantes, número que a ministra da Saúde considera insuficiente.