É tudo mais caro nas centralidades que Luanda viu nascer nas suas imediações, sejam o Kilamba, seja no Sequele, duas das mais conhecidas. O Novo Jornal online escolheu a do Sequele, habitada desde 2013, como exemplo de uma realidade que está a criar problemas a milhares de pessoas, depois destas pensarem que tinham o grande problema das suas vidas ultrapassado: a questão da habitação.

Mas depararam-se com um rasto gigante de problemas que, em boa medida, não contaram, a começar nos preços dos produtos de primeira necessidade, até aos custos das escolas para os filhos ou as contas que é preciso fazer para, por exemplo, ir ao cinema num Domingo à tarde.

Eduardo Camoço, funcionário público, viveu no Sequele três anos mas preferiu arrendar o apartamento e procurar uma nova vida, fora da centralidade.

"Desde que começamos a sentir o peso da crise financeira as coisas ficaram muito complicadas, a vida aqui é dura, sei que muitos pensam que viver na centralidade é coisa do outro mundo, mas tive que arrendar o meu apartamento porque estava a ser difícil gerir a vida aqui porque os preços são muito elevados", explicou.

Nilsa Marlene Alexandre, residente há dois anos no Sequele, salientou que viver nesta centralidade está a sair "muito mais caro" em relação ao bairro da Madeira, no Tala Hadi, Cazenga, onde residia antes de ser apanhada pelo furor das novas centralidades.

Os seus apartamentos novos e reluzentes, pelo menos em comparação com "as casas dos bairros da cidade, dos buracos nas estradas e do lixo", exerceram, no início, uma atracção impossível de ignorar. Mas, depois, chegou a consciência clara dos custos da opção de mudar.

"Estou a ter muitas dificuldades para gerir as despesas da água, luz, condomínio, creche, escola e gás. Estou a sentir um peso enorme no bolso. Penso em desfazer-me do meu apartamento e procurar uma casa no centro da cidade", explicou.

Os gastos do combustível está a ser outra dor na cabeça para os moradores, situação que os tem deixado agastados, devido à longa distância percorrida do Sequele ao centro da cidade, como é o caso de Edson Cardoso, que de segunda a sexta-feira chega ao serviço, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, às 6:30, e desde que se mudou para a Centralidade, está obrigado a sair de casa às 05:00, gastando, no mínimo, 40 mil kwanzas mensais em combustível.

A água potável raramente corre nas torneiras dos apartamentos da Centralidade de Cacuaco, uma cidade com dez mil habitações. Os moradores andam de bidões e bacias à cabeça. Para os moradores, o calvário parece não ter fim à vista.

"A água corre em alternância, dia-sim-dia-não, mas tem semanas que ficamos quatro a cinco dias seguidos sem água. Já reclamamos muitas vezes na administração mas eles dizem que não é da competência deles resolverem esta situação" apontando que é, a Empresa Publica de Aguas de Luanda (EPAL) que tem de responder, desabafou Mauro Santos.

O martírio das escolas públicas

Mas um dos problemas mais sentidos pelos moradores é quando pretendem colocar os seus filhos nas escolas da centralidade do Sequele, do 1º e 2º ciclos, todas elas com a gestão entregue ao padre Apolónio Graciano.

As famílias lamentam que escolas públicas como estas estejam a obrigar os encarregados de educação a pagar mensalidades e matrículas, sendo este um dos principais gastos que não estavam contidos na lista dos gastos mensais fixos dos moradores quando, antes de se mudarem, analisaram o seu orçamento e se tinham condições para uma mudança tranquila.

"O padre Apolónio Graciano costuma a dizer que as escolas estão na sua responsabilidade e que elas são comparticipadas. Como é possível uma escola que é construída com dinheiro público dizer-se que é comparticipada? É tudo muito triste...", desabafou.

Contacto pelo Novo Jornal online, o sacerdote Apolónio Graciano disse que a Delegação Provincial de Educação de Luanda lhe cedeu a gestão destas escolas e os pagamentos são apenas para a manutenção dos espaços.

O sacerdote garante que não há razão alguma para as queixas dos encarregados de educação, porque "é evidente" que os dois mil kwanzas que pagam mensalmente para a educação dos seus filhos "não é assim tão importante quando somam todas as despesas", recordando que as pessoas que se queixam "têm TV por cabo em casa, telemóveis etc.".

"Séra que dois mil Kwanzas para pagar a formação do filho é motivo para se queixarem aos órgãos de comunicação social?", questionou.

Perante esta situação, o director Provincial da Educação, André Soma, afirmou ao Novo Jornal online que a delegação da Educação incumbiu a responsabilidade das escolas na Centralidade do Sequele ao sacerdote Apolónio Graciano, mas disse que não existe qualquer orientação para fazer cobranças ilegalmente aos pais e encarregados de educação.