Do Golf II até à Cuca, de candongueiro, são 150 kwanzas, mas de Toyota Land Cruiser V8 custa exactamente o mesmo, porque, com a crise, também aqueles que em tempos tiveram mais poder de compra, até para comprar carros de luxo, vêem-se hoje obrigados a estes expedientes para poderem meter combustível nas viaturas.

E quem diz do Golf II para a Cuca, diz da Cuca para o São Paulo, pelas mesmas razões, mas em carros diferentes, por exemplo um Mitsubishi Pajero com estofos de cabedal, com dois "passageiros" atrás e um à frente, viajando sem os apertos dos candongueiros e pelo mesmo preço.

Há só um senão, porque a deslocação de luxo a baixo preço, que permite aos condutores obter 400 ou 500 kwanzas para meter na viatura o combustível necessário para o dia, pode demorar um bocado mais se a opção for pelo tradicional candongueiro, porque não "furam" o trânsito da mesma maneira, como explicou um passageiro de ocasião que apanhou com o Novo Jornal o mesmo Toyota Runner entre o São Paulo e a Mutamba.

"A situação que o país está a enfrentar obriga-me a fazer alguma coisa para não estar dependente do salário que cada vez mais vai tomando rumos incertos, não é a primeira vez que faço serviço de táxi com o meu carro, aproveitando para ter alguma `massa" no bolso, se não em casa o fogão também apaga", disse um dos taxistas de ocasião.

Os riscos dos biscates

Um destes automobilistas, que transportava os passageiros do Golf II até a Cuca, defendeu que "não há razão para haver vergonha em fazer táxi com o carro próprio" porque cada um sabe de si e todos sabem no estado em que se encontra o país, admitindo, no entanto, que "a situação se complicaria" se fosse apanhado por algum regulador de trânsito.

Mas a falta de hábito, a inexperiência ou porque só se recorre a este expediente ocasionalmente, tem alguns riscos, como constatou o Novo Jornal, quando, numa das deslocações, o motorista recebeu das mãos de um passageiro uma nota de mil para pagar 150 kwanzas e não tinha troco, pedindo ao passageiro para ir trocar. Esperou e valeu a pena, mas podia ter ficado à espera em vão.

Apesar dos automobilistas particulares estarem a fazer o serviço de táxi para obterem algum dinheiro extra, também é notada alguma satisfação por parte dos passageiros que dizem sentir-se satisfeitos por estarem dentro de um carro de luxo.

Muitos destes automobilistas particulares têm ajudado os passageiros, cobrando "apenas" 150 kwanzas, porque muitos dos táxis normais acabam por cobrar 200 de cada viagem, embora o preço legal esteja estipulado em 150 kwanzas.

Reacção dos azuis e brancos

O número dos automobilistas particulares que fazem o trabalho de táxi vai aumentado, competindo com os azuis e brancos, começando já a criar algum desconforto entre a classe de motoristas de candongueiro.

E a razão é óbvia: por cada passageiro que apanha um carro de luxo, são menos 150 kwanzas cobrados no táxi normal.

Um destes profissionais disse mesmo ao Novo Jornal que vai falar com a sua organização de classe para analisar a situação.