Se para os jornalistas, como João Liz, da Televisão Pública de Angola (TPA), a transmissão televisiva e radiofónica dos debates na Assembleia Nacional "abre uma nova era porque os angolanos terão a oportunidade de ver e ouvir o que se passa no parlamento", para os cidadãos comuns, a quem a informação era vedada de cada vez que os profissionais eram impedidos de divulgar os debates na sua totalidade por falta de acesso às galerias, inaugura-se a possibilidade de conhecerem, a par e passo, propostas e críticas, quem vota e quem se abstém, em directo ou em diferido, a partir do parlamento, que é, afinal de contas, o lugar onde estão representados.

O Novo Jornal Online quis saber a opinião de jornalistas e cidadãos sobre o dia em que se estreou a transmissão dos debates neste edifício da AN, os jornalistas tiveram acesso às galerias da Assembleia Nacional, e se votou o Orçamento Geral do Estado de 2018 na generalidade.

O estudante universitário Esteves da Costa tomou conhecimento, pela primeira vez, que o Governo central gere, neste OGE, 90,1 por cento da dotação aos órgãos do poder, sendo que os governos provinciais recebem apenas 9,1 por cento, o legislativo 0,3 por cento e o judicial também 0,3 por cento.

"Coisas que no passado não sabíamos, mas com a transmissão do debate, ontem, entendi que perdíamos muita coisa", disse Esteves da Costa, que louvou a reivindicação da oposição para que a transmissão fosse retomada.

O funcionário público Amadeu Kipipa não compreende que um sector como a agricultura não seja contemplado pelo menos com um por cento do OGE, numa altura em que o Executivo defende a redução das importações.

"Não haverá concurso público este ano, o sector privado ainda não reúne condições suficientes para recrutar mão-de-obra. Com uma percentagem elevada no sector agrícola, muito emprego poderia aparecer para ajudar o problema de desemprego", afirmou.

A transmissão televisiva e radiofónica dos debates na Assembleia Nacional encantou o reformado Santos Caputo, que destacou a abertura que o novo Presidente da República, João Lourenço, vem fazendo em vários sectores.

"Mas graças à transmissão percebi também que o sector social continua a ser prejudicado, visto que as áreas da educação, saúde e outras enfrentam vários problemas por falta de verbas", frisou.

Segundo ele, o país não está em guerra, por isso, não faz sentido a Casa Militar da Presidência da República ter três vezes o orçamento do poder judicial.

"A transmissão dos debates vai ajudar o próprio Executivo a corrigir muitas irregularidades. Ontem vimos as bancadas da oposição a tecer duras críticas construtivas e acredito que antes da aprovação definitiva do OGE, muitos sectores prejudicados serão reforçados", avançou.

O taxista Castro Matondo ficou muito atento, ontem, ao debate na Assembleia Nacional, mas critica o partido no poder por ser responsável pelo embargo dos debates.

"Os nossos clientes nos táxis, que gostam de ouvir música quando estamos a trabalhar, ficaram, ontem, atentos ao que estava a acontecer no parlamento. É essa democracia que o povo precisa" destacou.

Mbenza Sebastião, cidadão da República Democrática do Congo (RDC), em Angola há mais de 17 anos, gostou de como os deputados da oposição foram capazes de expor a suas inquietações.

"Eu acho que este protagonismo da oposição nos debates contribuía para o MPLA cancelar as transmissões das plenárias na Assembleia Nacional. Para mim, essas contribuições da oposição ajudam a desenvolver Angola", sugeriu.

Quem também destacou a superioridade da oposição nas intervenções no parlamento foi o comerciante Pedro Kissuca. Pelas suas contas, Kissuca diz que 93 por cento dos 51 deputados da UNITA na Assembleia Nacional falaram. "Foi bom ouvir os deputados da UNITA, que deram boas contribuições ao OGE. É isso que os angolanos querem nesta nova era", disse.

O militante do MPLA, Santos Fina, espera que os deputados do seu partido, dada a sua elevada quantidade no parlamento, façam mais intervenções nos futuros debates.

"Eu estava à espera que os deputados do meu partido monopolizassem o debate, mas não aconteceu. Espero que nas próximas oportunidades, isso não volte a repetir-se", aventou.

A transmissão dos debates alargou os horizontes do pintor António Sampaio Samy. Para ele, esse exercício (transmissão), vai amadurecer o eleitorado futuramente, para saberem qual é partido que defende os interesses do povo.

"Espero que não arranjem mas razões para interromper os debates. Ontem o povo ficou a saber muita coisa escondida que não sabia", disse António Sampaio Samy.

O enfermeiro Lameira Kassinda, que não acreditava quando os responsáveis do seu sector falavam da percentagem que recebiam do OGE, concluiu que o problema "reside na má planificação do Executivo".

"Nunca acreditei quando os nossos superiores hierárquicos diziam que o sector da Saúde recebe pouco dinheiro do OGE. Mas com o debate entendi concretamente a situação", frisou.

O jornalista da Rádio Despertar, Gonçalves Vieira, também saudou a transmissão televisiva e radiofónica dos debates na Assembleia Nacional.

"Isto vai fortificar a nossa democracia. Os angolanos não podem vir todos aqui ao parlamento, mas com as transmissões vão saber o que se passa na Assembleia Nacional", notou.

Relativamente ao acesso à sala da plenária, o jornalista disse não ter havido embaraços como tem sido hábito.

"Pelo menos tivemos acesso à sala da plenária, embora ainda com algumas limitações técnicas", informou, salientando que a sala principal não tem ainda condições para a captação de som.

"O sindicato dos jornalistas jogou um papel importante, porque os jornalistas eram proibidos de ter acesso à sala da plenária e confinados a uma área onde as condições de trabalho eram péssimas", acrescentou.

Mas nem só os jornalistas aplaudem esta decisão, também o jurista António Sabino Satombi pensa que "a nova era que o país vive ajudou à concretização deste sonho".

"Esperamos que as transmissões não fiquem por aqui", recomendou.

Satisfeito com as transmissões está também o professor universitário Carlos Cafua. Segundo ele, o Governo cessante foi opaco relativamente à situação. "Temos agora autoridades interessadas na vida dos cidadãos. Porque é que as transmissões não passavam nos órgãos públicos?", questionou.

Emanuel Biango, um funcionário do grupo parlamentar da UNITA, é outro dos que entende que a transmissão dos debates já deveria acontecer há muito tempo.

"Aliás, quando a Assembleia Nacional perspectivava mudanças para o novo edifício, as garantias eram de que as transmissões das sessões seriam feitas na nova casa. É estranho que só passados três anos as transmissões comecem", frisou.

Segundo ele, os angolanos esperavam isso há muito tempo, porque em qualquer outro país do mundo isso é normal.

"Isso vai ajudar os angolanos a ver o que os deputados andam a fazer no parlamento", sintetizou.