Num percurso de 317 quilómetros (Uíge-Luanda), os automobilistas passam por nove postos de revista onde os agentes reguladores de trânsito extorquem elevadas somas.

Tanto faz as viaturas estarem legais como não, o automobilista é obrigado a pagar aos agentes de trânsito valores que vão desde 500.00 aos 5000.00 Kwanzas, dependendo da capacidade de cada viatura.

O Novo Jornal Online percorreu o troço Uíge-Luanda e constatou que a situação merece a atenção do Comando da província Nacional.

O taxista que levou o repórter do Novo Jornal Online teve de pagar 5000.00 Kwanzas aos agentes de trânsito, não obstante a sua viatura estar legalizada.

"A minha viatura está legalizada e tem quatro lugares, mesmo assim, os polícias criam dificuldades aos automobilistas. De Luanda ao Uíge cobro 5000.00 Kwanzas a cada pessoa, com o pagamento de gasosa fico apenas com 10.000.00", denunciou.

Segundo o motorista, quando o novo comandante chamou a atenção sobre as "gasosas" nas estradas, as barreiras ao longo da via diminuíram significativamente.

O taxista contou ao Novo Jornal Online que o seu coração palpita quando chega no controlo da comuna de Piri (província do Bengo), onde os agentes não perdoam.

"É grave o que agentes da BET fazem. Não respeitam os motoristas e não querem saber nada", desabafa.

"Os agentes de trânsito estão a criar enormes transtornos nesta via. Espero que o comando geral da Polícia Nacional tome medidas urgentes", apelou o camionista Sebastião Nima.

Para quem viaje nesta rota, os obstáculos começam no controle da Barra de Dande (província do Bengo). Aqui, os motoristas começam já a sentir os efeitos negativos da viagem.

Depois da cidade de Caxito, num percurso de seis quilómetros, localiza-se o segundo controle e é notável a longa fila de viaturas estacionadas e os motoristas a dirigirem-se aos agentes para pagamento de "gasosa".

"Aqui não há circulação de pessoas e bens pacificamente. É uma pouca-vergonha o que acontece nesta via", queixa-se Sebastião Tavira, taxista há mais 10 anos nesta estrada nº 100.

A "gasosa" é mais forte nos postos de controlo onde operam os agentes da Policia de Batalhão Especial de trânsito (BET).

Aqui, os motoristas chegam mesmo a pagar entre 2.000.00 e 10.000.00 Kwanzas.

Para os motoristas, os agentes reguladores de trânsito da província do Bengo são os mais corruptos. "Os seus colegas da região administrativa do Uíge ainda toleram. Os do Bengo são carrascos", denunciou o motorista Castro Nsoqui.

Questionado um agente de trânsito na localidade de Mobil (província do Bengo) sobre as cobranças ilegais, este confessou ao Novo Jornal Online que a corrupção parte do topo.

"Não vou comer os documentos que os motoristas apresentam. Organizam-se eles (os chefes) e posteriormente nós", argumentou o agente que não quis identificar-se.

Mafulo André, responsável de uma barraca na comuna de Vista Alegre (província do Uije), já teve a paciência de fazer as contas às viaturas que circulam de Luanda e Uíge vice-versa.

"Fiquei atento das seis horas até as 20:30, contei cerca de 380 viaturas que passaram nesta estrada. Se cada viatura paga 500.00 kuanzas, quanto é que fica na mão dos agentes de trânsito?", questionou.

O motorista Mabundi Pedro encontrou, no controlo da comuna de Piri, um agente da BET com dois blocos de multa. Destes blocos, um é verdadeiro e o outro é falso.

"Fui multado num bloco falso, quando tentei avançar, o homem chamou-me a dizer que deviam negociar para aliviar a multa", denunciou Mabundi Pedro, que pede às autoridades competentes para pôr o cobro da situação.

O comandante da Policia na província do Uíge, António Simão Leitão Ribeiro, avisou os efectivos da corporação que quem fosse denunciado na prática de gasosa seria expulso da polícia, mas o aviso parece não estar a surtir efeito.