As queixas de mais de 400 alunos do curso de matemática da Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto já levaram a que a chefe de departamento do curso fosse suspensa e alvo de um inquérito, pela reitoria, mas os alunos vão mais longe e exigem a demissão da professora.

A informação foi avançada ao NJOnline por Adriano Couto, porta-voz do colectivo de estudantes do curso de matemáticas da Faculdade de Ciências da UAN.

"A professora Maria Natividade, chefe do departamento de matemática, é muito má e arrogante, não tem maneiras e gosta de reprovar os estudantes por capricho. Há muitos alunos que não conseguem defender o trabalho de fim do curso por causa da sua maldade", disse o representante do colectivo de estudantes.

Adriano Couto acusa Maria Natividade de dificultar a vida dos alunos "por mero capricho".

"Ela não é uma docente amorosa, se nós chegámos até ao 4.º ano, foi por mérito, mas ela não pensa assim, acha que chegámos por favoritismo", diz o estudante, acrescentando que "existem cerca de 100 estudantes que já terminaram o ano curricular há quatro anos e não recebem tópicos por conveniência da docente. Há alunos que estão a escrever a monografia e nunca terminam por cisma dela".

Segundo o porta-voz do colectivo de estudantes do curso de matemática da Faculdade de Ciências da UAN, o problema está na chefe de departamento e na sua equipa de professores nacionais, que acusam de ser mais exigentes dos que os professores expatriados.

"Com os professores expatriados nós temos tidos notas fabulosas, uma vez que eles avaliam aquilo que leccionam, enquanto Maria Natividade e os seus aliados avaliam conteúdos duvidosos e não apresentam matrizes das provas, e, se um estudante pedir para que se faça correcção da mesma, caso a caso, não aceitam", expõe.

Por essa razão, explica o porta-voz, "o colectivo de estudantes de matemática da Faculdade de Ciências pede o afastamento da professora Maria Natividade enquanto chefe do Departamento de Matemática, docente e tutora da faculdade", contou.

De acordo com Adriano Couto, os estudantes escreveram à reitoria, em finais de Setembro, e apresentaram as reivindicações.

"Na reunião que tivemos com a decana, na presença do vice-reitor da UAN, dissemos que não vamos regressar às salas se a Sr.ª Natividade não for destituída das suas funções. Por isso é que as aulas estão paralisadas desde o dia 03 de Outubro", afirmou.

A resposta da professora

Enquanto os alunos aguardam pelo veredito final das reclamações, a chefe de departamento de matemática da única faculdade pública de matemática em Angola afirma que os estudantes "querem facilidades para transitar de ano, mesmo com fraco desempenho".

"O que eles pretendem é facilidades, mesmo não sabendo o que é a matemática. A reprovação é um problema generalizado, e isso deve-se fundamentalmente ao baixo nível académico dos estudantes", justificou.

"Eu sou a única doutora em matemática formada pela Faculdade de Ciências em Angola. E o curso já existe há 50 anos", explicou, acrescentando que que é docente há mais de 30 anos.

Segundo Maria Natividade, as reivindicações dos estudantes começaram quando ela começou a leccionar a disciplina de Análise Funcional, uma cadeira fundamental no 4.º ano do curso de matemática.

"Como os alunos não tiveram boa preparação no ciclo básico por falta de professores qualificados, quando chegam ao curso de especialidade e encontram professores matemáticos têm dificuldades. Perante isso, infelizmente, a única solução que vêem é a substituição do professor", lamentou.

De acordo com a docente, outros departamentos da faculdade não aplicam o regime académico da Universidade Agostinho Neto.

"Quando eu assumi o departamento de matemática da Faculdade de Ciências, comecei a aplicar o regime académico da UAN que diz que no ciclo básico (do 1.º ao 3.º ano), se o estudante reprovar duas vezes no mesmo ano ou na mesma disciplina, é prescrito, e, no mesmo ano, já não tem direito a matricular-se, só tem o direito a fazer o exame, mas com autorização da decana, onde o estudante faz o pedido por escrito", explica.

"Caso ele reprove nos exames normais e de recurso, é automaticamente expulso da UAN", descreve a académica", continua, afirmando que "o mesmo se aplica aos estudantes do ciclo de especialidade (4.º e 5.º ano)".

"Nessa minha luta de tentar formar jovens em matemática enviei um aluno a Espanha para fazer o mestrado em matemática. Quando ele regressou, começou a ministrar matemática, de facto, e os estudantes começaram a reclamar dele face às dificuldades que eles apresentam. Que é uma dificuldade de base", conta.

"As reivindicações foram até à reitoria da UAN, que ordenou que os estudantes que não estivessem satisfeitos e não quisessem continuar com a disciplina, deviam anular a matrícula daquela cadeira e escolher uma outra disciplina", desabafou.

Maria Natividade disse que os estudantes querem que ela seja substituída por outro responsável que não seja especialista e que o curso volte à situação anterior, "onde as regras não eram cumpridas".

"Eu apenas estou a ensinar a matemática como se deve, porque os alunos universitários de matemática serão os quadros das próximas gerações, e, se não aprenderem bem agora, como é que vamos ter uma boa geração em matemática?", questiona a docente afastada, acrescentando que "em Angola os alunos não querem aprender, por isso é que no curso de matemática as pautas estão todas vermelhas".

"O meu objecto de trabalho são os estudantes, por isso formo com rigor, mas se nós continuarmos a trabalhar assim, vamos esperar mais de 50 anos para termos um segundo doutor em matemática, formado pela Faculdade de Ciências de Angola", disse Maria Natividade, que é também secretária da Comissão de Educação de Matemática da União Africana de Matemática.