O Xikila Money era um serviço que se caracterizava pela facilidade com que as pessoas de menores rendimentos tinham acesso aos serviços bancários, porquanto bastava um número de telefone e uma quantia mínima de 100 kwanzas para abrir conta.

Com esta conta aberta - tal como já acontece em alguns países africanos, com grande sucesso, como é o caso da Nigéria -, os clientes podiam efectuar diversos serviços, tudo via telemóvel, desde a transferência de dinheiro para outros utilizadores do serviço, pagamento de água, luz, telefone, televisão, internet, etc.

E é isso mesmo que os clientes ouvidos pelo NJOnline, esta segunda-feira, sobre o encerramento do Banco Postal, e, concomitantemente, dos serviços "Xikila Money", mais lamentam, com alguns a chamar a atenção para a forma como o BNA ignorou a população com menos posses que tinham neste serviço uma forma de dar dignidade ao pouco dinheiro que possuem.

"Era um banco que nos ajudava muito, a qualquer hora do dia, sem muitas burocracias para usufruir dos serviços e que nos permitia fazer depósitos e levantamentos, pagar as contas da energia, televisão, internet e transferências, a partir do teu telemóvel sem problemas nenhum", disse ao NJOnline Yureuma Tavares, obtendo a concordância de Pedro Franco, clientes há dois anos do Xikila Money.

Um outro jovem, que se juntou à conversa, mas não aceitou ser identificado, disse que a medida do BNA foi dura demais, pois entende que o Banco Nacional de Angola devia comunicar aos clientes e dar algum tempo sobre o possível encerramento para que os mesmos se acautelassem.

"Acho que esse encerramento é político, porque o Xikila Money nos ajudava muito, coisa que outros bancos não fazem, conseguíamos fazer pagamentos dos serviços de táxi, normal, e adquirir qualquer produto nas cantinas, independentemente do dia", lamentou o jovem.

Entretanto o NJOnline constatou esta manhã, dia em que o serviço é encerrado, que centenas de clientes do Banco Postal, afluíram à agência sede, na Avenida Comandante Valodia, em Luanda, uns para obterem mais esclarecimentos outros para exigirem a restituição do seu dinheiro.

No local são informados, por um funcionário do banco, que tudo está a ser tratado a nível superior para que os clientes não fiquem prejudicados.

Sob anonimato, um alto funcionário contou ao NJOnline que se a medida do banco se mantiver, mais de 800 funcionários vão perder os seus postos de trabalho.

Banco Postal ficou sem licença na quarta-feira, 02

O banco central anunciou que o Banco Mais e o Banco Postal não cumpriram a sua determinação, incluída num instrutivo de Fevereiro de 2018, que obrigava os bancos comerciais a proceder a um aumento de capital social de 2,5 mil milhões para 7,5 mil milhões de kwanzas.

Face a este cenário, o BNA informou ainda que iniciou as tramitações legais para que sejam produzidas as declarações de falência destes dois bancos comerciais e que "a entidade liquidatária dará indicações sobre o tratamento a dar aos depósitos de clientes".

Outras "obrigações ou direitos" destes dois bancos, como a "regularização da situação laboral dos seus colaboradores", terá idênticos procedimentos, embora os órgãos de direcção e administração devam manter-se, segundo ordens do BNA, à disposição da entidade liquidatária para garantir o encerramento ordeiro destes dois bancos.

De acordo com informações anteriores divulgadas pela imprensa angolana, Eduane Danilo dos Santos, filho do ex-chefe de Estado José Eduardo dos Santos, é sócio do Banco Postal, enquanto José Filomeno dos Santos, outro dos filhos do ex-Presidente, é apontado como tendo interesses no Banco Mais, anteriormente designado por Banco Pungo Andongo.

Banco Postal nega situação de insolvência

Numa nota enviada às redacções, os accionistas do Banco Postal garantem que este possui "fundos próprios regulamentares positivos, claramente suficientes para suprir todas as suas responsabilidades".

Com esta reafirmação da situação financeira sólida, os responsáveis pelo Banco Postal tornam pública a garantia de que observaram a exigência formulada em Fevereiro de 2018, em instrutivo emitido com esse fim, pelo BNA onde os bancos comerciais passaram a estar obrigados a triplicar os fundos próprios de 2,5 mil milhões de kwanzas para 7,5 mil milhões de kwanzas.

Face a esta garantia, os accionistas do Banco Postal dizem não perceber a medida do BNA, que retirou a licença bancária, porque a sua situação financeira é sólida e "não representa risco para o sistema financeiro bancário angolano" ou "para a carteira de depósitos dos clientes".

Para o BNA, porém, os accionistas do Banco Postal, tal como os do Banco Mais, não passaram na avaliação do banco central e a actividade bancária estava comprometida na sua normalidade porque "os seus promotores ou accionistas não demonstraram capacidade financeira" para lhe dar continuidade.

E foi isso que os accionistas do Postal procuraram contrariar no comunicado, sublinhando que o rácio de solvabilidade é superior ao mínimo exigido pelo BNA, na ordem dos de 67,51 por cento, muito além dos 10 por cento impostos pelo regulador.

Para além disso, o Banco Postal garante que o incumprimento do crédito no seu caso é de "zero" e que o rácio de liquidez chega aos 303 por cento, quando o mínimo exigido é de 100 % e que desde 17 de Dezembro que está em curso, após uma Assembleia Geral, um plano, com abrangência internacional, para cumprir o tecto de 7,5 mil milhões imposto pelo BNA, com a injecção de 3,8 mil milhões Akz e que existe um plano formulado em Maio de 2018 para elevar o capital social para os 19 mil milhões.

Perante esta descrição da realidade do banco, que o BNA não reconhece como efectiva na justificação enunciada para a retirada da sua licença bancária, o Postal diz ainda que o regulador foi longe demais porque qualquer falha a este nível deve ser "sancionada com multa" e não com o encerramento via revogação da licença.

Essa a razão - lembrando que é o próprio BNA que o informa -, referindo-se à multa em vez da revogação da licença para este tipo de falha, que os accionistas do banco vão recorrer à justiça.