"Vamos colocar 320 efectivos e vários meios técnicos, entre viaturas de combate ao incêndio, de resgate, ambulâncias e lanchas que vão poder fazer o patrulhamento ao longo da orla fluvial", disse Faustino Minguês ao NJOnline.

De acordo com o oficial dos bombeiros, outros meios serão acrescentados pelo INEMA e pela direcção provincial de saúde de Luanda, atendendo ao grande risco de desfalecimentos que se têm registados.

A Polícia Nacional vai igualmente deslocar um efectivo alargado para garantir a segunrança dos peregrinos e visitantes.

"Nós vamos realizar actividades de patrulhamentos de modo a sensibilizar os peregrinos sobre o uso das velas, porque temos verificado que existem muitos fiéis que abandonam as velas e fogareiros acesos próximo a zonas com capim", explicou Faustino Minguês, acrescentando que "foram criados algumas zonas de banhos ao longo da orla fluvial, onde, ao mesmo tempo, foram foram colocadas vedações noutros pontos para impedir o acesso de pessoas e diminuir os riscos de afogamento".

O porta-voz dos bombeiros frisou ainda que o Serviço SNPCB e outras forças complementares ligadas do Ministério do Interior implementam uma série de medidas de segurança em zonas balneares e navegação ao longo de vários troços de rio Kwanza, nos arredores da Vila da Muxima, no sentido de evitar eventuais afogamentos durante a peregrinação.

Já o padre Albino Reyes, em declarações à agência Lusa, disse que centenas de fiéis provenientes de diversos pontos de Angola e do estrangeiro começaram já a rumar à vila, onde os preparativos para a peregrinação anual decorrem com normalidade.

"Alguns fiéis já começaram a chegar aqui ao santuário, mas vamos registar a maior afluência na sexta-feira, uma vez que esperamos receber cerca de um milhão de pessoas", disse.

O lema da peregrinação deste ano, segundo Albino Reyes, sai da temática pastoral da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), que dedica o triénio à juventude, manifestando-se "solidária e preocupada com as principais inquietações dos jovens".

Em relação à agenda para os dois dias de devoção à "Mama Muxima (Mãe do Coração) ", o reitor do santuário adiantou que será preenchida por vários momentos, com destaque para Sábado à noite, com a procissão das velas, e Domingo, dia em que terá lugar a principal cerimónia religiosa.

O bispo convidado da CEAST este ano é D. Manuel dos Santos, da diocese de São Tomé.

A tradicional peregrinação ao Santuário da Nossa Senhora da Muxima vai ocorrer, nos dias 1 e 2 de Setembro.

Lendas e tradições, sincretismo e ecumenismo

Com a primeira capela erguida no local em finais do século XVI, e alvo de dezenas de alterações no edificado religioso da Muxima ao longo dos séculos, o Santuário foi declarado património de interesse em 1924, com o estatuto de Património Provincial de Angola, ostentando hoje a condição de Património Nacional.

Apesar de existirem vários santuários no país, o Santuário Mariano da Muxima é o mais importante e um dos que mais gente reúne anualmente em África e o mais concorrido na parte austral do continente.

Com uma forte génese de sincretismo religioso, onde a tradição pagã foi sendo inserida na tradição cristã europeia, a Muxima ainda hoje reflecte essa natureza multifacetada, o que, segundo alguns sociólogos e estudiosos católicos, foi essencial para o forte acolhimento que recebeu nas comunidades angolanas, independentemente da sua origem e crença.

Essa é a razão, ainda, pela qual todos os anos milhares de fiéis evangélicos e de outras congregações religiosas se juntam à peregrinação, não escondendo essa condição de não-católicos.

Há quem defenda mesmo que a Senhora da Muxima tem, na sua tradição, um profundo carácter ecuménico.

Alegados milagres feitos pela Senhora da Muxima, como, por exemplo, ocorreu no século XIX, quando, pela sua intervenção, rezam os registos, populações inteiras terão resistido a uma epidemia de doença do sono, impedindo a sua propagação, apesar de ter feito milhares de vítimas, consolidou o poder deste santuário junto das comunidades em todo o país.