A informação foi avançada esta manhã ao NJOnline pelo porta-voz da comissão negociadora dos trabalhadores dos Caminhos-de-Ferro de Luanda, Lourenço Contreiras, durante um protesto dos trabalhadores quando tentavam impedir a circulação dos comboios integrados nos serviços mínimos pela administração dos CFL, entre a Estação do Bungo para Estação de Viana e vice-versa.

Como o NJOnline noticiou esta manhã, a via ferroviária, na zona do viaduto entre o Rangel e o Cazenga, só foi libertada com a intervenção de dezenas de agentes da Polícia Nacional (PN) que, com recurso a golpes de bastão, brigadas caninas, lançamento de granadas de gás lacrimogénio e escudos de choque, abriram o caminho à composição que se dirigia a Viana oriunda do Bungo (Musseques).

Nessa operação vários trabalhadores ficaram feridos, um com gravidade, tendo mesmo perdido uma mão.

"Nós, os grevistas, aquando da declaração de greve, do passado dia 18 de Abril, salvaguardamos os serviços mínimos, na primeira semana, mas, depois, o conselho de administração do CFL, por decisão própria, decidiu retomar os serviços mínimos sem o nosso consentimento", adiantou Lourenço Contreiras, garantindo ainda que não houve qualquer tipo de acordo, entres as partes, para o efeito.

O porta-voz da comissão sindical sublinhou ainda, nestas declarações ao NJOnline, que a administração da empresa "forçou" alguns técnicos administrativos, antigos maquinistas, para irem colocar os comboios em circulação, ao mesmo tempo que ameaçava a comissão negociadora com punições de vária ordem, incluindo uma forte presença policial, para que aceitássemos retomar os serviços mínimos.

"Fomos ameaçados e, à força, queriam que aceitássemos retomar os serviços mínimos e isso não percebemos nem aceitamos", garantiu, lembrando que estavam a negociar "e de repente surgiram mais de 20 carro carros patrulha, quando nenhum de nós colocou em perigo a direcção do CFL".

De acordo com o porta-voz da comissão negociadora dos trabalhadores dos Caminhos-de-Ferro de Luanda, os grevistas decidiram esta segunda-feira impedir a circulação dos comboios dos serviços mínimos por não ter existido nenhum acordo nesse sentido que tenha saído do encontro negocial do passado Sábado.

"Sem acordo não se trabalha. Somos nós que suspendemos os serviços mínimos, com prova documental e é óbvio que deve haver um outro documento que levante a suspensão para que se retomem os serviços mínimos. E isso não houve", afirmou.

Lourenço Contreiras explicou que os trabalhadores decidiram impedir que os comboios circulassem porque viram que era a única maneira de fazer com que o Conselho de Administração recuasse.

Durante o protesto, que o NJOnline presenciou, dezenas de trabalhadores dos CFL, foram brutalmente espancados pela Polícia Nacional para desimpedirem a via entre a passagem de nível do Rangel e Cazenga, logo às primeiras horas da manhã, desta segunda-feira.

Os grevistas acabaram por ceder à força policial e deixaram a via para a circulação do comboio que saiu do Bungo para Viana, com passageiros, mas o que deixou a estação de Viana para Luanda não circulou porque por falta de pessoal para proceder à venda de bilhetes em consequência da greve.

Entretanto, a PN garantiu ao NJOnline que o ferimento do funcionário do CFL não foi por agressão mas sim quanto este tentava desligar uma das mangueiras que garante a ligação entre carruagens e que lhe provocou o grave ferimento no braço.

Uma grevista grávida contou que não foi respeitada pelos polícias e foi agredida com bastão (porrete).

"Não me respeitaram, bateram-me e me atingiram com gás pimenta nos olhos", contou ao NJOnline, enquanto outros colegas seus denunciavam terem sido atingidos com balas de borracha e pontapés, para além dos golpes de porrete.

O NjOnline contactou o porta-voz dos CFL, Augusto Osório, para obter informações sobre os próximos passos da administração mas este não se mostrou disponível para prestar declarações.