Wilson da Silva Sebastião tem 28 anos e, há 4 anos, concluiu com sucesso a licenciatura em Gestão de Recursos Humanos, na Universidade Gregório Semedo, em Luanda. Fruto do seu bom desempenho académico viu o seu nome na lista dos melhores estudantes daquela instituição de ensino, o que encheu de orgulho os seus encarregados de educação, que muito trabalharam para ver o filho formado. Mas hoje, Wilson enfrenta outro desafio: a luta pelo primeiro emprego. Desde que se licenciou, em 2015, encontra-se desempregado.

Em conversa com o Novo Jornal, o jovem disse que já procurou por várias empresas, tendo deixado o seu curriculum vitae e participado de várias entrevistas, mas nunca chegou a ser chamado.

A última tentativa de Wilson foi no passado dia 06 deste mês, na anunciada Feira de Oportunidades de Emprego, Estágio e Formação Profissional (FOEEFP), organizada pelo Ministério da Juventude e Desportos, através do Instituto Angolano da Juventude (IAJ). Para escapar do congestionamento que ainda se verifica por toda a província de Luanda e ocupar o primeiro lugar na "fila dos desempregados", Wilson chegou no local quando eram 5h00 da manhã.

Com o envelope na mão, que continha o seu curriculum, a cópia do certificado de licenciatura, do Bilhete de Identidade e de vários certificados de cursos técnicos que realizou, o jovem iniciou outra marcha na busca do primeiro emprego, partindo do município do Cazenga, onde vive com os pais, para o Centro de Conferências de Belas (CCB),

onde decorreria a tão anunciada feira.

Quando chegou ao local, o jovem, que mede 1,98 metro de altura, viu-se pequeno diante

da multidão que já lá encontrou.

À semelhança de Wilson, outros milhares de jovens também procuravam pelo primeiro emprego. Fala-se que perto de 50 mil jovens, entre eles, deficientes físicos e mulheres grávidas, abarrotaram o CCB, na semana passada, criando o caos que virou notícia. Houve desmaios, roubos e extravio de documentos. Como resultado da má organização, milhares de jovens viram o sonho do primeiro emprego a ser "asfixiado" entre a multidão, facto que acabou por comprometer a continuidade de um evento tão aguardado e que teve a aprovação da ministra da Juventude e Desportos Ana Paula da Silva do Sacramento Neto.

Com o triste episódio, Wilson, assim como outros milhares de jovens angolanos, mais uma vez não teve êxito na luta pelo primeiro emprego. Vai continuar desempregado e não sabe, ao certo, por mais quanto tempo.

Privados pedem maior aposta na capacitação de quadros

Para a vice-presidente da Confederação Empresarial de Angola (CEE), Filomena

Oliveira, o alto índice de desemprego que se regista no país deve-se a problemas estruturais, como a falta de coordenação entre os planos curriculares das universidades e a necessidades de mão-de-obra do mercado de trabalho.

"Não estamos a estudar e a planificar o alto índice de natalidade do nosso país.

Estamos com uma taxa de natalidade bastante alta para as infra-estruturas que temos. Não temos um plano em que estejamos a adequar as nossas infra-estruturas, incluindo a economia, para absorver toda essa mão-de-obra que entra, anualmente, para o mercado de trabalho. Segunda questão, os currículos das escolas, na sua maioria, não incluem matérias que seja importante para a empregabilidade destes mesmos jovens", explicou.

Para a empresária, não havendo um alinhamento entre aquilo que é estudado nas universidades e as necessidades do nosso mercado, de nada servirá todo o esforço que é feito pela juventude na luta pelo emprego.

"A qualidade do ensino tem graves lacunas. Não conseguimos certificar o conhecimento dos alunos que saem das universidades. A maior parte das nossas universidades viraram mais um negócio do que instituições onde deve haver um clima para se criar inovação, novas tecnologias, novos conhecimentos e novas formas de produzir".

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