O alerta do médico angolano que dirige o IHMT diz sobretudo respeito aos efeitos colaterais da covid-19 na mortalidade a "médio e longo prazo" por causa de doenças transmissíveis endémicas, como a malária HIV/Sida e Tuberculose, as tropicais negligenciadas e transmitidas por mosquitos, como dengue, chicungunya, febre-amarela e zika, e as crónicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes e cancros do colo do útero, mama e próstata.

Preocupa-nos que os doentes deixem de ter seguimento, diagnóstico e tratamento. O risco de a mortalidade aumentar por causa dessa situação é grande", disse Filomeno Fortes, em entrevista à agência Lusa.

O aumento da transmissão da leptospirose, doença transmitida pelos ratos, é outra das preocupações do especialista, que lembra que quando há fome no continente, "uma das tendências é a população começar a alimentar-se de ratos".

Também a redução da cobertura de vacinas é motivo de preocupação para o director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, que refere que a luta contra a covid-19 e o consequente "esquecimento das outras doenças que afectam África pode criar condições para "uma população susceptível a doenças como a poliomielite, o sarampo ou a febre-amarela".

O alerta já tinha sido deixado pela Organização Mundial da Saúde, em Abril, que veio alertar para o crescimento de casos depois de a campanha 2020 da erradicação da pólio ter sido suspensa pelo menos até Julho, o que constitui um risco acrescido da ocorrência de surtos.

"É um risco a médio prazo", declarou.

Também os programas de irradicação da tuberculose estão a ser afectados de forma significativa pela luta contra a Covid-19. Em Maio, um estudo realizado em parceria com o Imperial College London, a organização global para a saúde pública Avenir Health e a Universidade John Hopkins, revelava que mais 1,4 milhões de pessoas vão morrer com esta doença no planeta porque os meios absolutamente necessários para combater a tuberculose estão a ser desviados para a luta contra a Covid-19.

Angola é um dos países com a taxa de tuberculose multirresistente mais alta de África

Por isso, o médico defende que "os governos têm de continuar a fazer um esforço na melhoria da resposta epidemiológica e na criação de condições assistenciais" aos doentes e populações em geral.

Em Angola, o número de pessoas que atenuam a fome com ratos está a aumentar, como noticiou o Jornal de angola, na sua edição de 14 de Maio, em que noticiava que "um número considerável de moradores do bairro Santa Paciência, no Distrito Urbano do Zango, está a alimentar-se de ratos desde que foi decretado o estado de emergência, em Março, devido à pandemia da Covid-19".