A indignação foi manifestada nas redes sociais, através de uma carta aberta escrita por um grupo de antigos estudantes da UAN, no passado dia 12 de Maio, onde afirmam que o docente foi enterrado sem direito a óbito.

"No passado dia 08/05/19 tomámos conhecimento, pelas redes sociais, do falecimento (por razões desconhecidas) do Dr. Alexandre Garbuze, professor catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto, nascido na Ucrânia em 1946 e vindo para Angola em 1992 (um período crítico dada a guerra civil que o País vivia", lê-se na carta.

Os ex- estudantes narram na missiva que o professor Alexandre Garbuze veio para Angola no âmbito de um acordo de cooperação entre os dois países, precisamente como professor titular da FE-UAN para as cadeiras nucleares do ciclo básico como Física II (Termodinâmica e Hidrostática) e Física III (Electrostática, Electricidade e Electromagnetismo), tendo exercido as funções de chefe do Departamento de Ciências básicas e de coordenador da comissão organizadora dos exames de aptidão para o ingresso naquela instituição.

Segundo os ex- alunos, Alexandre Garbuze esteve ao serviço daquela instituição de 1992 até 2019, e pela sala de aulas dele passaram mais de 5000 estudantes.

"É com grande sentimento de pesar que expressamos a nossa dor e luto pelo passamento físico de um grande ícone que o País teve, de um cidadão que esteve de forma comprometida ao serviço da ciência e das engenharias em Angola".

Destacado pelo seu rigor científico e administrativo, continuam a descrever os ex-estudantes, o professor Garbuze trabalhou de forma profissional e incansável para a aplicação do seu cunho rigoroso no processo de formação dos Engenheiros da UAN, tendo abandonado a sua terra natal para viver em Angola e dedicar-se à FE-UAN.

"Ficámos chocados com a notícia e também com o funeral que o Dr. Garbuze teve, nem sequer teve direito a um óbito, tiraram o corpo do morgue e foram depositar no cemitério. Justamente assim", lamentaram.

Os ex-estudantes relatam, na carta, que alguns alunos questionaram e pediram um óbito ou uma cerimónia para que as pessoas interessadas fossem prestar a sua última homenagem ao professor, vontade que foi rejeitada pela instituição, que justificou a recusa com a falta de verbas. Facto que levou os ex- estudantes a predisporem-se a contribuir para custear as despesas do óbito.

"Nem isso foi o suficiente para que as autoridades permitissem a realização de um óbito ou uma cerimónia digna à medida da dimensão da pessoa do Dr. Garbuze. Uma vez que ele não tem familiares em Angola, estávamos esperançosos que a UAN assumisse as responsabilidades sobre o seu corpo e lhe desse a dignidade merecida e reconhecida pela comunidade estudantil".

"No funeral se fizeram presentes umas dezenas de pessoas, entre alguns funcionários da instituição, alguns professores e ex-alunos", contaram. E acrescentaram: "Um professor catedrático que tanto fez pelo País, a Reitoria da UAN não se fez presente, a ministra do Ensino Superior não se fez presente, o governador de Luanda não se fez presente, a massa estudantil e académica não se fizeram presentes, não houve nenhum comunicado feito pelas autoridades nos órgãos de comunicação, não houve uma mensagem da decana, não houve pronunciamento da Reitoria, não houve qualquer gesto de respeito, reconhecimento e valorização da pessoa e obra do Professor Garbuze", lamentaram.

Os antigos estudantes da Faculdade de Engenharia dizem na carta que imploraram à Reitoria que comunicasse aos estudantes e ex-estudantes da instituição que a FE-UAN não tinha dinheiro para enviar o corpo para a Ucrânia conforme o pedido da sua esposa.

"Estávamos dispostos a contribuir, solicitámos uma conta bancária para o efeito e nada. Que ingratidão para com um homem que trocou a sua pátria por Angola e contribuiu, com excelência, para a formação de vários quadros angolanos".

Segundo os ex-estudantes, pelas mãos do professor Garbuze passaram quadros políticos, governantes e ex-governantes como são os casos do engenheiro Manuel Vicente, antigo vice-Presidente da República e ex- PCA da Sonangol, bem como o deputado da UNITA Domingos Maluca.

Nós, dizem os ex-estudantes na carta, "estamos envergonhados e chocados, pois, a mulher dele pedia ajuda à instituição e como a faculdade depende da Reitoria não foi atendido a tempo para que tivesse um óbito e um funeral condignos.

"É inadmissível e inaceitável um homem com aquela dimensão ser tratado como um animal. Foi chocante, estamos indignados. O Dr. Garbuze não merecia ", descreveram.

O NJOnline contactou o porta-voz da Universidade Agostinho Neto, Arlindo Isabel, para o devido esclarecimento, mas este informou que só prestará declarações dentro de duas semanas, por estar indisponível no momento.