A informação foi avançada esta quinta-feira, 11, à imprensa, por Elíades Yavanua, pai da vítima, uma das cinco que saíram feridas dos disparos feitos por agentes da PN na Avenida 21 de Janeiro, no bairro Rocha Pinto, após receber uma visita de deputados do grupo parlamentar da UNITA.

Elíades Yavanua salientou que o seu filho foi submetido a duas intervenções cirúrgicas, no Hospital do Prenda, onde esteve internado durante 12 dias, estando ainda com a bala cravada no corpo.

"O meu filho foi atingido por um tiro dos agentes quando regressava da escola, durante a confusão que se instalou aqui no Rocha Pinto, na tarde em que foi morta a "zungueira" Juliana Cafrique. Foi levado em estado grave, pela própria polícia, ao Hospital do Prenda, e sofreu uma intervenção cirúrgica no mesmo dia", contou.

Segundo os médicos, refere o pai, a bala danificou os pulmões e o diafragma.

"Até agora o menino não consegue dormir, ele sente muita dor. Às vezes, para dormir, temos de lhe colocar gelo na região do peito.

Elíades Yavanua lamentou o facto de, até ao momento, a família não ter nenhum apoio da PN, no que concerne ao tratamento do jovem baleado.

"A polícia não está a apoiar o meu filho. Até agora, nenhum elemento da PN apareceu aqui a prestar qualquer apoio", lamentou o progenitor.

"A família está a endividar-se para conseguir custear as despesas do tratamento do Domingos e não esta a ser fácil para nós", lamentou-se.

Elíades Yavanua queixou-se também de o hospital não poder passar o relatório médico aos familiares sem que o Serviço de Investigação Criminal (SIC) autorize. Facto que, segundo ele, está difícil.

"O Hospital do Prenda só nos pode passar o relatório médico com o número do ofício da polícia, que tem de sair do SIC. Só depois passam o relatório médico. Mas só depois de 45 dias, coisa que não compreendemos".

"Já batemos a várias portas na PN e nunca nos atenderam. Já falei várias vezes com o porta-voz da PN em Luanda, Mateus Rodrigues, e apenas me informou que isso não depende dele, mas sim dos seus superiores".

O pai diz já ter solicitado uma audiência com o comandante provincial da PN em Luanda, mas foi informado de que, para tal, tem de estar acompanhado do tal relatório médico do hospital em que o filho esteve internado.

"Me disseram que para marcar a audiência tinha de ter comigo o relatório médico e os documentos do Hospital do Prenda. Infelizmente estou sem saber onde pedir ajuda porque o relatório médico ainda não saiu", explicou.

Já Arlete Chimbinda, que falou em nome dos deputados do Grupo Parlamentar da UNITA, referiu que "a situação é estranha porque o jovem foi atingido em pleno tiroteio da polícia que disparou para dispersar a população"

"Não percebo as razões que fazem com que a PN não preste o apoio ao jovem Domingos, quando as outras vítimas estão a ser apoiadas.

"Na qualidade de deputados vamos fazer o que for possível para que a polícia faça o que deve em relação ao cidadão, porque todos sabemos que isto foi durante uma operação policial", salientou.

Polícia diz que processo está parado por falta de informação

Contactado pelo NJOnline, Mateus Rodrigues, director de comunicação do Ministério do Interior, em Luanda referiu que a polícia só vai prestar apoio caso o pai justifique com provas documentais que as informações que o mesmo está a passar são verdadeiras.

Porque lhe foi solicitado uma informação e ele não a forneceu até agora. Esse é o procedimento, infelizmente desde que nós solicitámos os documentos ele não apareceu mais e não deu nenhum sinal", afirmou.

"Quanto ao apoio, ele tem de fornecer as informações necessárias para que o processo siga", explicou Mateus Rodrigues.

Já o director-geral do Hospital do Prenda, Tomás Cassinda, em declarações ao NJOnline, disse que em todos os casos que envolvem ferimentos com armas brancas ou de fogo os relatórios médicos devem ser passados ao SIC e não aos familiares directos.

"O hospital não pode entregar o relatório médico aos pacientes nem aos familiares, mas sim à PN, caso seja solicitado pela própria polícia", disse o director, acrescentando que "no caso do jovem Domingos Kiala, o relatório deve ser passado, sim, mas apenas com a solicitação do SIC, que por sua vez o deve entregar aos familiares".

Tomás Cassinda afirmou que a solicitação do relatório médico do paciente, Domingos Kiala, já foi feito pelo SIC, e que, esta semana, o pedido deu entrada no hospital.

"Nos próximos dias irá ser entregue ao Serviço de Investigação Criminal", garantiu.