A degradação de terras em Angola resulta da enorme pressão humana sobre os recursos, motivada por décadas de violência e pelo fenómeno da desertificação, segundo o chefe de departamento de Seca e Desertificação do Ministério do Ambiente, Luís Constantino, no dia Mundial do Combate à Seca e à Desertificação, celebrado anualmente a 17 de Junho, desde 1995, ano em que foi proclamado pelas Nações Unidas.

As províncias mais afectadas são as do extremo sul-sudoeste e as da orla costeira.

O responsável adiantou que as causas que contribuem para a degradação de solos estão relacionadas à sobre-exploração de solos induzindo aos processos de erosão e exaustão e, consequentemente, à desertificação, que se associa a praticas agrícolas, ao uso insustentável dos produtos da floresta, ao sobrepastoreio e à exploração mineira.

Luís Constantino acrescentou que ao longo dos anos, a ocupação humana e a exploração dos recursos naturais vão agravando as regiões secas do País, provocando a degradação da terra, a perda da cobertura vegetal nativa e a redução da disponibilidade de água.

"Normalmente a desertificação está associada às zonas rurais de qualquer país. Nos países em desenvolvimento a maior parte da mão-de-obra está ocupada pelo sector primário da economia, o sector agrário, na ausência de empregos e deterioração das condições económicas no meio rural, as populações migram para os centros urbanos ou para outros países à procura de melhores condições de vida, referiu.

O também Ponto Focal da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação falou dos programas em curso no País, destacando a implementação de dois projectos ligados à desertificação e degradação de terra e seca.

Trata-se do projecto de Reabilitação de Terras e Gestão das áreas de Pastagem nos sistemas de produção agro-pastoris dos pequenos produtores no sudoeste de Angola (RETESA), que teve início em 2014 e tem duração de quatro anos, abrangendo áreas do Namibe, Huíla e Benguela.

Destacou igualmente o projecto denominado "Integração da Resiliência Climática nos Sistemas de Produção Agrícola e Pastoril", que decorre desde 2016, através da gestão de fertilidade de solos das áreas vulneráveis usando a abordagem das escolas de Campo (IRCEA).

A área de abrangência do projecto são as províncias de Malange, Bié, Huambo e Huíla.

Reconheceu que a desertificação representa a nível nacional e internacional um dos mais graves problemas com implicações sociais, económicas e ecológicas, pois, em 2013, foi aprovado por Decreto Presidencial, o Programa de Acção Nacional de Combate à Desertificação (PANCOD).

A elaboração do presente Programa de Acção Nacional de Combate a Desertificação visa por um lado dar corpo a obrigação assumida pelo Estado angolano na Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação e, por outro, estabelecer de forma prioritária políticas de combate a desertificação e mitigação dos efeitos da seca.

De acordo com Luís Constantino a desertificação tem impacto social, económico, ambiental e ecológico.

Para combater a desertificação ou prevenir, segundo o engenheiro agrícola, é necessário aplicar nas zonas afectadas medidas e estratégias integradas de longo prazo, baseadas no aumento da produtividade da terra, na reabilitação, na conservação e gestão sustentável dos recursos terrestres.

"Hoje, para cada três hectares de terra que foram produtivos, um hectare é praticamente inutilizável", realçou Luís Constantino.

O responsável sublinhou ainda que os prejuízos ambientais causados pela desertificação são as erosões, a pobreza dos solos, que se tornam inférteis, a diminuição ou o desaparecimento das vegetações e dos animais, entre outros.