A informação sobre a detenção do militar que está em prisão preventiva, num caso que em agosto de 2016 chocou a sociedade angolana, foi prestada ao final do dia de sexta-feira pelo procurador-geral da República, João Maria de Sousa, depois de uma reunião do Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público, que serviu igualmente para aprovar a sua jubilação.

"Era ele [militar em prisão preventiva] o detentor da arma que efectuou o disparo que causou a morte do jovem Rufino. Os outros encontram-se em liberdade provisória", explicou o procurador.

João Maria de Sousa, que até 02 de Dezembro deverá ser substituído no cargo de procurador-geral da República, acrescentou que o processo sobre este caso já foi remetido pelo Ministério Público (MP) para o Tribunal Provincial de Luanda.

Centenas de populares juntaram-se a 12 de agosto de 2016, em Viana, arredores de Luanda, no funeral do "menino Rufino", um rapaz de 14 anos atingido a tiro por militares das Forças Armadas Angolanas (FAA) durante uma demolição de casas.

"Nem no tempo da guerra se via isto, queremos Justiça", desabafava então, à Lusa, Ana Maria, uma das moradoras do bairro Walale, no Zango II, enquanto assistia às cerimónias fúnebres de Rufino Marciano António.

Por ali apontavam-se então responsabilidades aos militares, que já teriam demolido mais de 1.500 casas, alegando que foram construídas em terrenos do novo Aeroporto Internacional de Luanda.

"Era humilde, bom rapaz, social e um bom aluno. Tinha um grande futuro, mas que lhe foi cortado", contou à Lusa o avô, Gonçalves Canda.

"Vamos agora enterrá-lo sem saber o que aconteceu e porquê. Quem matou devia aparecer, para se fazer Justiça, mas até agora nada", lamentou.

Tudo aconteceu na tarde de 05 de agosto de 2016, quando Rufino e outros moradores do bairro se juntaram a contestar as demolições - que deixaram milhares de pessoas desalojadas e que afectariam também a casa dos seus pais.

"O Estado-Maior General alerta a população para evitar afrontar os militares, com armas de fogo, como ocorreu nesse trágico acidente, onde foram capturadas duas armas", lê-se num comunicado emitido na altura pelas chefias da FAA.

"Aqui não havia armas. E um menino de 14 anos com duas armas era um Rambo", ironizou na altura o avô.