Terminou com catorze detidos, por suposta desobediência e desacato às autoridades, no início desta semana, a onda de protestos contra a venda de terrenos loteados em Benguela, concretamente no bairro das Salinas, de onde foram desalojadas centenas de famílias quando a Administração Municipal partiu casas, escola e posto de saúde.

Movidos por informações que apontam para o início do processo de vendas, assumido já pelas autoridades, ex-moradores do bairro marcharam do Magistério Lúcio Lara em direcção ao local de triste memória, num percurso de quatro quilómetros, para manifestações em nome do direito de preferência, principalmente.

Nas imediações do escritório da empresa que procede ao loteamento do espaço, bem ao lado dos escombros das demolições ocorridas a 24 de Junho, decorriam "manifestações pacíficas" que visavam, também, impedir o negócio.

"Como vê o senhor jornalista, não trouxemos armas, nem nada, porque não queremos confronto com a Polícia", disse Cassiano Catimba, um dos milhares de desalojados à espera de um frente-a-frente com a administradora municipal, Adelta Matias.

Irónico, Catimba dizia não ser angolano, tal como os seus companheiros, salientando que, caso contrário, a população já tinha sido recebida pelos dirigentes.

"Se nos colocou naquela escola, que vai caindo aos poucos, daí a retirada dos alunos, é porque a Administração está a nos matar. Está a dizer descansem em paz, mas não consegue, estamos aqui a exigir direitos de superfície", critica.

Outros cidadãos, incluindo senhoras com crianças entre os braços, diziam que não mais regressariam ao magistério, numa zona com montanhas ao lado, uma vez que convivem com animais perigosos.

"Há lá macacos e cobras, muitas. Temos de fazer fogueira para afugentar os bichos. É assim quase todas as noites. Nascemos aqui nas Salinas, já não voltamos", desabafam.

Os protestos aumentavam de tom, com apelos para um esclarecimento da Administração Municipal, e a Polícia, poucas horas depois, efectuava detenções, alegando desacato às autoridades.

Com ex-moradores das Salinas, foi detida a activista cívica Sara Paulo, professora e jurista, pelas mesmas razões, ao filmar a acção policial.

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