Orlando Bernardo falou ao NJOnline na abertura do primeiro encontro de Comunicação Institucional e Imprensa que decorre até quarta-feira no Comando da Unidade de Cavalaria e Cinotécnia com o objectivo de analisar as estratégias de comunicação da Polícia Nacional.

A ideia é criar condições para que a Polícia Nacional melhore a comunicação sobre a sua actividade desenvolvendo ferramentas comunicacionais que permitam "a melhoria da própria imagem e do trabalho da PN", disse.

Imagem essa que ficou severamente afectada pelo episódio do Rocha Pinto, onde um agente matou a tiro uma zungueira, Juliane Cafrique, sem qualquer razão que justificasse tamanha violência, gerando um tumulto que deixou a zona da Av. 21 de Janeiro num caos e a opinião pública angolana claramente contra a PN.

Mas o comissário da PN acrescentou que este esforço visa, no fim da linha, levar a que os cidadãos percebam a actividade da polícia e entendam os resultados pretendidos com a sua actuação, questões essências para que a PN possa "melhorar a sua relação com os cidadãos" e que isso permita acabar com os mal-entendidos nas ruas do país entre os polícias e os restantes cidadãos.

Orlando Bernardo disse ainda que a polícia está condenada a ter os cidadãos ao seu lado para o combate à criminalidade e à manutenção da segurança pública.

De polícia de tempos de guerra para polícia de tempos de paz

Nesta iniciativa da PN estiveram também o jornalista Reginaldo Silva e o Sociólogo Sérgio Calundungo.

O jornalista disse que a Polícia Nacional tem que parar de trabalhar com opinião e passar a usar a informação.

"A polícia foi confrontada com o caso do Rocha Pinto, uma situação grave que a polícia tem de estar preparada para enfrentar. E o receio é que este tipo de casos possam alimentar situações mais graves em termos de instabilidade social e outros comportamentos ainda mais violentos", disse.

Na ocasião Reginaldo Silva apelou aos responsáveis máximos da Polícia Nacional a equacionar melhor a forma como e quando os agentes devem usar os meios letais.

"Nos temos uma polícia que precisa se converter de uma polícia do tempo da guerra para uma polícia de tempo de paz e civil. Este será o grande desafio da PN, independente de outros desafios, da própria criminalidade violenta em si, da miséria e de tudo aquilo que condiciona a nossa situação e que pressiona a polícia", afirmou o jornalista, que apontou ainda como caminho mais e melhor formação para os agentes e mais e melhores meios para que a polícia possa exercer de forma competente a sua actividade.

Fake news e redes sociais

O Sociólogo Sérgio Calundungo optou por abordar a questão das notícias falsas (fake news) e das redes sociais enquanto potenciadoras de problemas para a sociedade e, nesse seguimento, para as forças da ordem.

"A velocidade que a internet tem faz com que as pessoas se esqueçam dos serviços noticiosos como o das rádios, das televisões e dos jornais. Os usuários devem ter mais cuidado com as contas nas redes sociais e aconselho a não partilharem notícias sem antes confirmarem a fonte", apelou o Sociólogo.

Durante a sua explanação, Sérgio Calundungo explicou que as falsas notícias têm como objectivo principal prejudicar ou favorecer alguns interesses.

"Temos muitos sites e jornais em Angola que divulgavam notícias que não são verdadeiras. Hoje é difícil ver quando um determinado jornal ou rádio está a passar uma informação credível", alertou, revelando que até os órgãos de comunicação social públicos já caíram nesse descrédito de emissores de de informação falsa.

Esta chamada de atenção do sociólogo tem como pano de fundo o potencial gerador de conflituosidade das notícias falsas e de informação com interesses inconfessos passada pelas redes sociais onde não existem crivos profissionais e deontológicos que teoricamente devem existir nos órgãos de comunicação social. Conflituosidade essa que em determinadas situações é transposta para as ruas.