A atribuição deste prémio ao activista e jornalista angolano foi divulgada hoje e justificado pelo IPI, através de um comunicado, por, com o seu empenho "e risco pessoal", fazer "incidir uma luz no abuso de poder com coragem e persistência".

"World Press Freedom Hero 2018" é um prestigiado prémio que é normalmente atribuído aos jornalistas que mais de destacam no combate ao abuso de poder e em defesa da liberdade de imprensa pelo IPI, que tem membros espalhados por 120 países e, segundo o seu site oficial, integra na sua gestão editores e directores de alguns dos media mais prestigiados em todo o mundo e aparece na lista dos consultores para esta área da ONU, Conselho da Europa e UNESCO.

Na informação sobre as razões que levaram a esta atribuição, o activista angolano é apontado como alguém que ao longo de décadas enfrentou "assédio e processos judiciais" devido à sua actividade de denúncia de corrupção e abusos dos Direitos Humanos em Angola.

Marques vai receber este prémio a 22 de Junho em Abuja, na Nigéria.

Os "sinais de corrupção" do novo PR, segundo Rafael Marques

Em declarações à agência Lusa, Rafael Marques manifestou-se "honrado", afirmando que o prémio chega num momento em que está a ser julgado "por dizer a verdade, por tentar contribuir para que sejam corrigidos os casos de corrupção e os actos ilícitos que ocorrem muitas das vezes ao nível da administração pública".

"Há muitos casos de indivíduos com provas substanciais sobre o seu envolvimento em actos de corrupção que lesam o Estado em centenas, milhões de dólares e nem um deles está a ser julgado ou detido, só a arraia-miúda e o Rafael, que se opõe à corrupção", realçou.

Na mesma entrevista à Lusa, o jornalista fala de sinais que, segundo ele, contradizem o discurso de combate à corrupção do Presidente da República.

"João Lourenço também tem estado a dar sinais de que está a formar uma nova elite de saqueadores. Recentemente, criou-se aqui um consórcio privado para a realização de voos domésticos que beneficiou de uma garantia soberana do Estado angolano, as famosas garantias soberanas, para a aquisição de seis aviões no Canadá", disse.

"O consórcio tem como sócios o irmão do Presidente angolano, Sequeira João Lourenço, também secretário-executivo da Casa de Segurança do Chefe de Estado e proprietário da empresa de aviação SJL, o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente, Frederico Cardoso, dono da empresa Air 26, e o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente, o general Pedro Sebastião, dono da empresa Mazewa", acrescentou Marques na mesma entrevista.

"São as pessoas mais próximas que rodeiam o próprio Presidente que já estão a apoderar-se daquilo que é público e estão, basicamente, a manter o estatuto de principais dirigentes do país e principais homens de negócios. Esses indivíduos já tinham as suas empresas falidas e estão agora a receber oxigénio porque João Lourenço está no poder. Isto não é uma contradição, é uma falta de vergonha", acusou.