No discurso a propósito da entrega do prémio, Guterres afirmou que a CPLP é um importante "pilar no apoio às Nações Unidas" e na defesa do multilateralismo na resposta aos "enormes riscos" que a humanidade enfrenta.

Destacou igualmente o empenho dos membros da CPLP para criar as melhores condições para que o mundo enfrente com sucesso os perigos que estão ao virar da esquina, como as alterações climáticas ou, entre outros, o terrorismo.

António Guterres, ao receber o prémio bienal José Aparecido de Oliveira, aproveitou ainda para enfatizar aquela que é uma das suas prioridades enquanto Secretário-Geral da ONU, cargo que ocupa deste Janeiro, que é o crescendo das opções isolacionistas e nacionalistas - como está hoje a acontecer em alguns países importantes para a marcha da humanidade, como o Brasil ou os EUA -, porque estas "não fazem sentido".

O português reafirmou que "uma ordem multilateral" é hoje "mais indispensável do que nunca para a resolução dos problemas mundiais".

O prémio hoje entregue a Guterres foi decidido pelos Chefes de Estado e de Governo da CPLP em Julho deste ano, na cimeira de Santa Maria (Sal, Cabo Verde).

A justificação passa pela sua "actuação singular, com projecção internacional, na defesa e promoção dos princípios e valores da CPLP, bem como pelo elevado contributo na promoção e difusão da Língua Portuguesa".

O nome do galardão é uma homenagem da CPLP ao embaixador brasileiro José Aparecido de Oliveira pelo papel essencial que desempenhou na criação da Comunidade e foi criado em 2011, tendo Lula da Silva, ex-Presidente do Brasil o primeiro a ser com ele agraciado.

O antigo Presidente e primeiro-ministro timorense Xanana Gusmão e a Igreja Católica Timorense receberam este prémio em 2014 e em 2016 foram distinguidos o antigo chefe de Estado português Jorge Sampaio, o ex-secretário executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África, Carlos Lopes e o embaixador Lauro Barbosa da Silva Moreira, diplomata de carreira do Brasil e primeiro representante permanente junto da CPLP.

Guterres e Bolsonaro

António Guterres, após a cerimónia, em resposta a perguntas dos jornalistas, falou do Brasil como um país de grande importância no contexto internacional, lembrou o seu papel na CPLP e nos BRICS - conjunto de países em ascensão económica onde estão a China, a Índia, a Rússia e, para além do Brasil, a África do Sul - e ainda a sua posição de candidato a um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Desvalorizou os receios de que, com a eleição recente de Jair Bolsonaro, cujas ideias são contrárias ao multilateralismo, defendendo opções nacionalistas, com laivos xenófobos e fascistas, o Brasil possa desencaminhar-se, garantindo que vai trabalhar como sempre com o novo Governo do país a partir do momento em que, em Janeiro, Bolsonaro assumir a Presidência.