A poluição atmosférica na China diminuiu cerca de 25 por cento desde que a epidemia de coronavírus teve início porque as fábricas se mantiveram fechadas semanas a fio, a indústria pesada usou muito menos carvão e petróleo para funcionar devido às quarentenas que obrigaram as pessoas a ficar em casa e a indústria pesada, nalgumas províncias, ainda hoje está parada ou a funcionar de forma limitada.

Os efeitos da epidemia de coronavírus, Covid-19, que começou em Dezembro, na cidade chinesa de Wuhan, já matou mais de 2.600 pessoas só na China e o rasto trágico continua a alargar-se, mas, agora, pouco mais de dois meses após ter sido detectado este novo coronavírus, os efeitos na diminuição da poluição do ar, devido à menor actividade industrial, começam a revelar-se e a surpreender o mundo... positivamente.

Com a queda abrupta da actividade económica na China, onde, por exemplo, as bolsas estão a cair a pique há semanas, com as fábricas encerradas e a indústria pesada metalo-mecânica reduzida de forma substancial, com as deslocações em transportes aéreos, marítimos e rodoviários brutalmente reduzidas por imposição das autoridades de Pequim para estancar a progressão da epidemia, as estações de produção de energia a partir do carvão e do petróleo ou pararam, nalguns casos, ou reduziram de forma significativa a sua actividade.

Com isso, a poluição do ar, uma das grandes encruzilhadas da China moderna, que mata mais de 1,2 milhões de pessoas só neste país, essencialmente devido a doenças do aparelho respiratório, que se costuma ver traduzida por prédios e estradas envoltos em neblinas tóxicas em Pequim e em Xangai, sofreu uma redução de 25% em média, sendo maior nalgumas das zonas mais industrializadas.

E se, por um lado, o Covid-19 não parece dar tréguas às autoridades sanitárias em todo o mundo, inclusive na China, onde, aparentemente, o vírus parece estar a dar sinais de regredir, por outro, o impacto da diminuição da poluição está já a ser traduzido em muitas mais vidas salvas nestes pouco menos de três meses de epidemia, com a possibilidade de os efeitos se manterem ainda por mais algum tempo após o controlo da epidemia.

Ainda é cedo, segundo alguns especialistas, para se ter uma ideia exacta, ou aproximadamente, de quantas vidas estão a ser poupadas com esta abrupta diminuição da poluição do ar nas cidades chinesas, mas é já ponto assente que são muitas mais que aquelas que se perderam, embora seja igualmente sublinhado que se trata só e apenas de um efeito colateral.

Mas conhecem-se alguns dados, como os revelados pelo relatório do Instituto da Saúde dos EUA sobre o estado do ar em 2017, onde se destaca que na China morreram 1,2 milhões de pessoas por causa da poluição do ar gerada por partículas em suspensão, e quase 200 mil devido a outro tipo de poluição gerada pelas emissões industriais, com grande destaque para as que resultam da queima de carvão, que é, neste caso, o inimigo mais mortífero devido ao seu uso generalizado na indústria chinesa, seguindo-se as emissões geradas pelo transporte terrestre, aparecendo depois o transporte marítimo e aéreo.

A China, face ao gigantismo do problema da poluição intramuros, tem feito um esforço gigantesco para reduzir o seu uso, mas os especialistas afirmam que vão ser necessários ainda muitos anos até que este país consiga livrar-se desta matéria-prima como principal gerador de energia que alimenta a poderosa indústria exportadora da segunda maior economia mundial.

O petróleo é outro grande emissor de gases poluentes, sendo a China o maior importador do mundo, com uma média de queima superior aos 13 milhões de barris por dia, tendo esta descido nos últimos dois meses 1,1 milhões, possam chegar aos 2 milhões, mais de 20%, como o próprio Governo de Pequim admitiu segundo fontes citadas pela Reuters em meados de Janeiro.

Face a este cenário, e para responder à pergunta sobre quantas pessoas terão sido salvas devido a esta diminuição da poluição do ar na China, Ronald Brakels, um especialista em questões ambientais australiano, fez contas, começando por concluir que esta epidemia levou a uma redução da poluição em um terço ou mais.

Sem esta redução impulsionada pela epidemia, Brakels sustenta que em 2020, neste início de ano, estariam a morrer, em média, um milhão de pessoas até 31 de Dezembro, o que faz com que a média diária seja de 2,700, com uma redução da poluição em 1/3, então, graças ao Covid-19 estarão a ser poupadas 900 vidas diariamente.

Ou seja, em apenas três dias foram salvas pessoas em número igual ao total das vítimas mortais até agora desta epidemia que já está activa há várias semanas, o que permite calcular que, olhando para a média de mortes diárias actualmente confirmadas pelas autoridades chinesas, que se situa acima de 100, a redução de poluição por causa da epidemia está a salvar sete vez mais pessoas que as que morrem devido à infecção.

A conclusão dos especialistas como Ronald Brakels é que a China vive um problema resultante da poluição atmosférico de um gigantismo que a ele nada se compara, nem sequer uma grave epidemia por coronavírus, como aquela que está actualmente a ser combatida em todo o mundo.