O Ano Novo chinês, que se comemora a 25 de Janeiro, é a maior migração voluntária em toda a humanidade, fazendo com que milhões de pessoas se desloquem para as suas terras de origem e depois regressem num curto período de dias, o que representa um perigo acrescido para a dispersão do novo coronavírus descoberto em Dezembro na cidade chinesa de Wuhan, que já fez seis mortos e centenas de casos de contágios confirmados.

Antes dessa reunião de quarta-feira, onde será decidido se há ou não razões para um alerta global, a OMS lançou hoje um comunicado onde adverte para o real risco deste novo coronavírus, família de vírus responsável por doenças do aparelho respiratório, que podem ser simples constipações a perigosas e mortais pneumonias, poder alastrar para outras regiões da China, a partir da cidade de Wuhan, no centro do país, com mais de 10 milhões de habitantes, e para outros países que sejam destino de pessoas que tenham estado ou passado pelas áreas afectadas pela doença.

África está claramente na rota desta possível pandemia, visto que, como é comum todos os anos, muitos milhares de cidadãos chineses a trabalhar no continente - Angola é um bom exemplo, com os seus mais de 250 mil imigrantes chineses no seu território - deslocam-se por esta altura festiva à sua terra natal, regressando poucos dias depois do fim das celebrações, as mais importantes de todo o imenso território chinês, onde vivem mais de 1,3 mil milhões de pessoas.

Com este alerta, a OMS - que nos últimos dias anunciou a chegada do vírus a países como o Japão, Coreia do Sul, Tailândia e pelo menos a um país africano, bem como em cidades distantes de Wuhan, como Pequim e Xangai -, pretende reforçar o apelo para uma maior vigilância nos hospitais de todo o mundo feito há dias, bem como aconselhar a criação de mecanismos nacionais de controlo de eventuais focos da doença.

Esta agência das Nações Unidas explica ainda que a expectativa de mais casos nos próximos dias, para além da "migração" do Ano Novo, resulta da constatação de que o Governo está a investir numa mais eficaz monitorização de novos casos, o que até aqui estava a ser feito de maneira menos efectiva.

Tarik Jasarevic, porta voz da OMS, acrescentou que sempre que se aposta mais na vigilância, surgem mais casos confirmados.

Para já, segundo dados oficiais chineses, são cerca de três centenas, com seis mortos, mas cientistas de organismos de vigilância internacional garantem já que são bem mais de 2.000, embora todos, o que é um bom indicador, estejam ligados de uma forma ou de outra ao foco inicial na cidade de Wuhan, uma das razões para quais ainda não foi feita uma advertência, de qualquer grau, para as viagens ao gigante asiático.

Mas outro dado recente contraria este optimismo, é que os cientistas acabam de confirmar que o vírus em causa possui capacidade substancial de contágio humano-a-humano, o que coloca este até agora desconhecido coronavírus na lista dos de maior risco para a humanidade, o que levou já centenas de aeroportos de países em todo o mundo a aumentar os sistemas de vigilância nas chegadas.

E a OMS anunciou mesmo uma reunião de alto nível para quarta-feira onde vai decidir se declara uma emergência global por causa deste vírus.

Recorde-se que foi também da China que emergiu em 2003 uma das mais abrangentes pandemias através de um coronavírus da família deste, na famigerada Síndrome respiratória aguda grave (SARS) que gerou um significativo pânico global, tendo morrido cerca de 800 pessoas entre Novembro de 2002 e Julho de 2003, com mais de 8.000 pessoas infectadas, segundo dados oficiais da OMS.

Segundo relatos das agências de notícias com escritórios na China, muitos naquele país estão a optar por não viajar neste período festivo, escolhendo ficar em casa como forma de prevenção.

E as imagens e fotografias distribuídas pelos media mostram um número mais elevado que o normal de pessoas nas cidades chinesas com máscaras na cara.