O BPC é a maior dor de cabeça do Executivo em todo o sistema bancário nacional e é demasiado grande, mais de 25% de quota de mercado, para cair por causa do risco sistémico, o que significa que o Governo deverá injectar mais 2 mil milhões USD neste banco público em breve.

Isso, adianta ainda a Fitch, vai fazer com que a dívida pública suba este ano para os 85 por cento, embora sem este acrescento, o valor da dívida vá ficar igualmente em número elevados, nos 83%, porque 2 mil milhões USD representam 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

A Fitch diz que espera que "a dívida pública suba para 83% do PIB no final deste ano", o que levara à que "emitir dívida para recapitalizar o BPC elevaria ainda mais este valor", sendo por isso que os seus analistas esperam que "o banco central vá permitir alguma flexibilidade relativamente aos prazos de recapitalização".

O alerta surge sobre os prazos que o Banco Nacional de Angola deu ao sector financeiro para corrigir as necessidades de capital.

"Não sabemos o tamanho da carência de capital descoberta ou se os valores vão ser divulgados, seja banco a banco, seja no agregado, mas encaramos a capitalização dos bancos como genericamente fraca, tendo em conta o volume de crédito malparado e a concentração de empréstimos em nome de uma só entidade", apontam ainda os analistas da Fitch.

Como o NJOnline noticiou a 30 de Novembro, o Banco Nacional de Angola (BNA) deu o mês de Junho de 2020 como prazo limite para que os bancos comerciais a operar no mercado angolano "resolvam as suas deficiências de capitais próprios".

Numa altura em que os bancos comerciais estão a ser analisados à lupa pelo Banco Central, de forma a detalhar as suas necessidades de capital para futuras recapitalizações, o seu governador, José de Lima Massano, veio à público, em conferência de imprensa, anunciar que, até ao fim do ano vai divulgar os resultados da avaliação e detalhar a qualidade dos activos do sector e deixar claro aqueles que vão ter de ajustar o seu capital social.

Se se confirmar a análise da Fitch, só o BPC, que e estatal a 100%, vai exigir ao Estado mais um esforço de 2 mil milhões USD, que acresce aos mais de 2 mil milhões colocados na Recredit, empresa criada para gerir as situações de malparado na banca nacional, onde o BPC é, de longe, o mais afectado, com mais de 80% do valor global.

Muitos problemas, poucas soluções

Após essa divulgação, onde é ideia generalizada que uma boa parte dos bancos a operar em Angola vai apresentar problemas profundos e onde algumas fusões podem ser a única saída possível, o mês de Junho de 2020 é o prazo limite para aquela que os analistas já admitem como uma das mais substantivas revoluções" na banca angolana.

"Os bancos vão poder, até Junho de 2020, sanar deficiências a nível dos capitais próprios", apontou Massano, sublinhando de imediato que, caso sejam encontrados obstáculos rígidos, estes deverão optar por soluções alternativas, onde surgem à cabeça as quase incontornáveis fusões entre bancos mais pequenos, ou a junção dos com menor capacidade aos gigantes da praça.

Tudo isso ficará claro até final de Abril do próximo ano, data limite para a informação de cada um dos bancos chegar ao BNA.

As soluções podem surgir através da exigência de "um programa de reestruturação", a sua redimensionamento para ganhar agilidade, emagrecendo ou avança para "um quadro de fusões e entrada de novos accionistas".

A perda de licença para operar é uma possibilidade que José de Lima Massano não descarta: "No extremo, alguns bancos podem perder a licença".

"Não podemos ter instituições com nível de capital desadequado ao risco e perfil que assumem", disse anda Lima Massano, citado pela Angop e pela Lusa na conferência de imprensa que teve lugar na sexta-feira após mais uma reunião do Comité de Política Monetária (CPM).

Por detrás desta emergência está, sublinhou o governador do BNA nesta conferência de imprensa, a constatação de que é a economia "como um todo" que deixa de ter condições para continuar a financiar o seu crescimento" se nada for feito.

Nesta elucidativa conferência de imprensa, em finais de Novembro, Massano debruçou-se ainda sobre a questão das taxas elevadas do crédito malparado admitindo que neste momento é de 29%, embora 90 por cento desse volume esteja concentrado em apenas um banco, que, embora não tenha sido nomeado, só pode ser o BPC, sublinhando que essa realidade influência de forma evidente as estatísticas.