Com este cenário em pano de fundo, más notícias da China e optimismo do "cartel" composto pela Organização dos Países Exportadores (OPEP) e por um grupo de 10 desalinhados encabeçado pela Rússia que desde 2017 pugna pelo "equilíbrio" nos preços do crude, o mercado petrolífero está hoje, 17, como destaca a Reuters, com um comportamento misto, que é como quem diz, ora sobe, ora desce...

É por isso que o barril de Brent, que hoje, perto das 12:45, hora de Luanda, estava a valer 85,22 USD, mais 0,22% que no fecho de segunda-feira, e a apresentar um ganho substancial de quase seis USD desde 10 de Janeiro, mas com um frenesi ascendente e descendente bastante pronunciado nas últimas semanas.

Não vale a pena, por isso, fazer de conta que não há problemas sérios na China, porque, quando se esperava que a libertação das amarras dos rígidos confinamentos devido ao Sars CoV-2, levassem a um desabrochar económico e a um aumento do consumo de energia, Pequim lança um balde de água gelada para cima dos quentes mercados de petróleo, provocando uma nuvem de vapores que podem ser tóxicos para as economias petrodependentes, como é, ainda, o caso de Angola.

O crescimento chinês em 2022, avança a Reuters, tal como as restantes agências internacionais, foi de apenas 3%, quando o Governo estimava que chegasse aos 5,5%, o que, se fosse num qualquer país ocidental, seria um crescimento radiante, no gigante asiático, é uma quase-tragédia, como o deixa em evidência o facto de se tratar do segundo pior crescimento anual em meio século, desde 1976.

Covid e o embaraçoso momento terrível que o país viveu no seu mercado imobiliário, com as quedas abruptas de impérios no sector, obrigando o Estado a intervir com biliões para apagar este fogo, em meados de 2021, depois de a Evergrande, um dos gigantes globais do sector, anunciou que estava na iminência de falência, estão por detrás do pesadelo que o país viveu em 2022, atingindo um crescimento anémico para aquela que foi a economia-estrela das últimas décadas em todo o mundo.

Apesar disso, foi a China que mais contribuiu para a recuperação dos mercados petrolíferos no pós-Covid - se é que esse momento já chegou! -, embora em números menos robustos que no passado.

Seja como for, este cenário, ou ainda a recessão que o Banco Mundial e o FMI prevêem para os próximos meses nos EUA e na União Europeia, não parecem meter medo a OPEP+, cujas lideranças de facto, saudita e russa, apostam em que 2023 vai ser um ano positivo na perspectiva dos exportadores, com o barril a manter-se entre os 80 e os 90 USD.

O "cartel", que em finais de 2022 retirou 2 milhões de barris por dia (mbpd) à sua produção global, admite agora que não vai alterar substancialmente a produção actual, perto dos 50 milhões de barris por dia, de um total global que ultrapassa ligeiramente os 100 mbpd, mas notam as fontes da Reuters e da Bloomberg que, se o preço do barril ultrapassar os 100 USD, é quase certo que a OPEP+ vai injectar mais crude nos mercados.

No entanto, todo este Outlook 2023 pode colapsar nas rígidas correlações de forças actuais no mundo, com o ocidente alargado, EUA, Europa ocidental, Japão, Coreia do Sul e Austrália, a pressionar fortemente a Arábia Saudita para se distanciar dos russos, aumentando a sua produção e, ao mesmo tempo, influenciar os restantes membros para lhe seguirem os passos de forma a baixar os preços, altamente valorizados no contexto da guerra na Ucrânia, embora a corrigir lentamente, tanto no crude como no gás, este de forma mais acelerada.

Mas Riade tem dado a mesma resposta sempre que mais pressionada por Washington, que é garantir que a política não em lugar à mesa da OPEP+, e que apenas os elementos valorizados pelos mercados da oferta e da procura, movem os elementos do "cartel".

Angola, que é um dos elementos da OPEP e da OPEP+, tem um particular interesses neste sobe e desce e jogo de forças entre gigantes porque o esforço de diversificação da sua economia está muito longe de estar conseguido, e Luanda ainda tem no petróleo e no gás mais de 95% do total das suas exportações, perto de 30% do seu PIB e acima de 50% das suas receitas fiscais.

Isto, apesar de a sua produção estar em declínio há vários anos, pouco além do 1 mbpd nos dias de hoje, e muito longe dos mais de 1,8 mbpd em 2008/09.

Este momento histórico tem, porém, as suas curiosidades, como o facto de, apesar das sanções aplicadas pelo ocidente à Rússia devido à invasão da Ucrânia, que incidem especialmente no seu sector energético exportador, crude e gás, as receitas de Moscovo subiram de forma significativa em 2022 apesar da redução nas quantidades exportados.

Essas receitas de Moscovo aumentaram mesmo quase 29 por cento, contrastando, como explicou o vice-primeiro-ministro Alexander Novak, antigo ministro dos Petróleos e hoje a principal figura do sector na Rússia, com os objectivos do ocidente.

Com estes números em cima da mesa, a Rússia não tem razões substantivas, a não ser políticas, para defender qualquer alteração das políticas da OPEP+, mas, como garantiu o seu homólogo saudita, Abdulaziz bin Salman (ambos na foto), a política não tem qualquer papel nas discussões no seio do "cartel".

E a perspectiva de Moscovo melhorou substancialmente nas últimas horas, depois de se saber que a Índia, um dos maiores importadores do mundo, aumentou as suas compras à Rússia de forma substantiva, atingindo já uma média superior a 1 mbpd, o que é uma das razões que justificam a afirmação de Novak a admitir que Moscovo vai amentar substancialmente as suas exportações petrolíferas em 2023.