Há uma semana, a 27 de Janeiro, o barril de crude estava a valer quase 89 USD, mas hoje, quinta-feira, 02 de Fevereiro, valia menos de 83 USD (82,93), perto das 10:10, hora de Luanda, num declínio consistente gerado pelas incertezas nas economias ocidentais mais importantes.

Entre estas pontuam as economias alemã e a norte-americana, por exemplo, com subidas robustas nas taxas de juro pelos bancos centrais dos dois "blocos", União Europeia e EUA, com o combate à inflação como objectivo maior destas medidas, pressionando o consumo como um camartelo para baixar os preços dos bens.

E quando o consumo desce, o valor do crude acompanha, sempre, embora a abertura da China nas medidas draconianas anti-Covid e uma perda de solidez do dólar norte-americano estejam a contrabalançar e proporcionar à matéria-prima um ligeiro alívio esta quinta-feira, 02, permitindo mesmo uma subida de, ao início da manhã, perto de 0,20% face ao fecho de quarta-feira.

A queda de quarta-feira, onde chegou aos 82,2 USD, deveu-se essencialmente à perda de valor do dólar dos EUA face às restantes principais moedas do cabaz internacional, o que gera sempre um efeito negativo nos mercados porque é ainda a moeda norte-americana a mais usada na compra e venda de energia e o seu custo depende em grande medida de a quanto os países compram o USD para adquirir o petróleo.

Embora cada vez mais grandes economias, com a chinesa, indiana, russa ou mesmo saudita estejam a negociar os produtos energéticos nas suas respectivas moedas através de acordos bilaterais, o sobe e desce do dólar ainda é um dos factores que mais contribuem para o viço ou desviçamento dos mercados do crude.

No horizonte está, no entanto, uma luz cada vez mais forte, que pode ser como um comboio a aproximar-se no túnel, ou o fim do túnel, porque a taxa de inflação nos EUA e na Europa ocidental tem vindo a baixar ligeiramente, o que dá esperança de uma recuperação (o fim do túnel escuro) mas pode ser também o comboio a aproximar-se perigosamente porque a inflação ainda está historicamente muito alta, acima dos 8% em média.

E isso cria as condições propícias a uma derrapagem à menor contrariedade, como, por exemplo, um agravamento na frente da guerra na Ucrânia, ou, o que está a ser visto como bastante provável, um final de Inverno e princípio de Primavera no Hemisfério Norte mais frios, depois de os meses de Novembro, Dezembro e Janeiro terem sido anormalmente amenos, notando-se pouco ou nada a falta do gás e do crude russos na Europa, depois das sanções da União Europeia terem reduzido substancialmente as compras de energia a Moscovo.

E, neste capítulo, há um dado substantivo a que os mercados estão a dar particular atenção, que é a aproximação veloz da data decidida pelo bloco europeu para o fim das compras de produtos do petróleo refinados à Rússia, 05 de Fevereiro, o que deve deixar a União Europeia com sérios problemas devido ao enorme caudal de refinados oriundo, normalmente, da Rússia, se as condições meteorológicas piorarem e se, como alguns analistas temem, as refinarias europeias não foram capazes de dar resposta a este... buraco criado pelas sanções.

E com isto tornou-se quase irrelevante o efeito do aumento expressivo da tensão no Médio Oriente, depois de um crescendo de violência entre Israel e a Palestina, com dezenas de mortos provocados em ataques de ambos os lados desta explosiva trincheira global, e depois de uma série de ataques com drones em infra-estruturas militares iranianas, havendo a possibilidade de a autoria ser israelita, como está a elocubrar a imprensa internacional.

Tamanho contraste mostra com colorido garrido a volatilidade dos mercados energéticos e esta segunda-feira aparece como um clarão na noite escura quando comparada com sexta-feira, sessão que parecia estar a abrir a cancela de uma nova etapa para o sector.

Este cenário é especialmente importante para Angola porque, apesar da diminuição continuada da produção nacional, ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.