Mas não é só dos EUA que chegam os bons indicadores que catapultaram o barril esta sexta-feira, 27, para os 88,60 USD, mais 1, 15 % que na sessão de quinta-feira e onde já não estava desde 21 de Novembro de 2022, é-o também a recuperação em marcha acelerada da economia chinesa.

Com os dois maiores queimadores de crude do mundo, que coincide com as duas maiores economias do mundo, a mostrarem mais apetite por energia, nem os receios de uma evolução dramática da guerra na Ucrânia, depois de o ocidente ter prometido "inundar" o conflito com os temidos carros de combate pesados, parece agora poder reverter este quadro.

Estes dados são ainda confirmados por igual soma e segue no WTI de Nova Iorque, onde, também ali, o barril que serve de marcador dos ganhos no mercado norte-americano está a somar ganhos há semanas, estando hoje, perto das 14:10, hora de Luanda, a valer 82,33, o que, segundo a Reuters, traduz-se na maior subida diária em duas semanas.

Atentos a estes dados estão os membros da OPEP +, organização que desde 2017 agrega os Países Exportadores (OPEP) e a Rússia a encimar um grupo de 10 independentes, com o objectivo de manter os mercados equilibrados em cima dos pratos da balança dos interesses do "cartel", onde quem mais beneficia são aqueles com maior dependência das ramas que exportam, como é o caso de Angola.

E isso mesmo será traduzido por acção ou manutenção da actual produção quando, na próxima semana a OPEP+ voltar a reunir para analisar os mercados e decidir se mantém, aumenta ou retira barris ao que diariamente é injectado nos mercados, que é cerca de 50% dos 100 milhões de barris (mbpd).

As agências e os sites especializados, com base em fontes não identificadas no "cartel", o que se espera é que estes números não sofram alterações porque o barril acima de 80 USD é, claramente, um patamar que a todos agrada e o que está bem, se se mexe, corre o risco de provocar alterações em cadeia.

Cenário e contexto

A entrada da segunda maior economia do mundo e o maior importador de crude do planeta no seu novo ano, o Ano do Coelho, altura em que milhões de chineses, naquela que é a maior migração planetária de indivíduos num curti espaço de tempo, regressam às suas terras, é outro dos factores que está a mexer com o petróleo, especialmente agora que o país não está condicionado pelas restrições à mobilidade dos últimos anos devido à pandemia.

Esta reabertura chinesa vai, segundo a Agência Internacional de Energia, empurrar o mundo para um consumo diário de quase 102 milhões de barris por dia (mbpd), um aumento impactante, considerando que antes da pandemia, este estava nos 100 mbpd.

É claramente, notam os analistas ouvidos pelas agências e pelos sites especializados, a reabertura da China que está a elevar optimismo dos mercados e os preços para patamares mais elevados, não sendo de ignorar a possibilidade colocada pela Goldman Sachs de o barril atingir os 100 USD muito em breve.

Isto, porque um aumento do consumo na China vai estreitar ainda mais a margem entre a oferta e a procura, o que, como sempre ocorre, vai fazer com que o barril ganhe valor, podendo mesmo, como nota, citado pela Reuters, o chefe da AIE, Fatih Birol, 2023 ser um ano de maior aperto do que aquilo que a maior parte dos analistas está a antecipar.

A ajudar a este cenário, está o facto de ser ainda de esperar menos petróleo russo nos mercados devido a nova sanções aplicadas pelos países ocidentais devido à guerra na Ucrânia, estando para ser efectivo, a 05 de Fevereiro, o preço limite imposto pelo G7 aos produtos russos refinados do petróleo, ou ainda o embrago total da União Europeia ao crude que sai da Rússia via marítima.

Curiosidades

Este momento histórico tem, porém, as suas curiosidades, como o facto de, apesar das sanções aplicadas pelo ocidente à Rússia devido à invasão da Ucrânia, que incidem especialmente no seu sector energético exportador, crude e gás, as receitas de Moscovo subiram de forma significativa em 2022 apesar da redução nas quantidades exportados.

Essas receitas de Moscovo aumentaram mesmo quase 29 por cento, contrastando, como explicou o vice-primeiro-ministro Alexander Novak, antigo ministro dos Petróleos e hoje a principal figura do sector na Rússia, com os objectivos do ocidente.

Com estes números em cima da mesa, a Rússia não tem razões substantivas, a não ser políticas, para defender qualquer alteração das políticas da OPEP+, mas, como garantiu o seu homólogo saudita, Abdulaziz bin Salman, a política não tem qualquer papel nas discussões no seio do "cartel".

E a perspectiva de Moscovo melhorou substancialmente nas últimas semanas depois de se saber que a Índia, um dos maiores importadores do mundo, aumentou as suas compras à Rússia de forma substantiva, atingindo já uma média superior a 1 mbpd, o que é uma das razões que justificam a afirmação de Novak a admitir que Moscovo vai amentar substancialmente as suas exportações petrolíferas em 2023.

E Angola...

Este cenário é especialmente importante para Angola porque, apesar da diminuição continuada da produção nacional, ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.