Os três rapazes foram resgatados pelas autoridades espanholas já no destino, Las Palmas, onde chegaram clandestinamente mas de uma forma raramente vista, ombreando em coragem e risco com os já bem conhecidos viajantes no espaço do trem de aterragem dos aviões de grande porte.

Embora ainda não se saiba, como descrevem as agências internacionais, a forma como foi possível aguentar 11 dias naquelas periclitantes condições, sabe-se que o navio esteve este tempo em alto mar porque isso mesmo ficou registado em vários dos sites online de seguimento deste tipo de embarcações.

No entanto, a fotografia distribuída pela Marinha espanhola mostra claramente os três homens sentados na parte superior do leme do Alithini, um petroleiro com pavilhão da ilha de Malta que atracou em Las Palmas na segunda-feira.

Os três jovens foram encaminhados para o hospital mas não correm risco de vida, embora ali tenham chegado com sintomas medianamente graves de hipotermia e desidratação.

Segundo a agência espanhola, EFE, embora raros, as autoridades já detectaram pelo menos seis casos semelhantes nos últimos meses, sendo que esta foi das deslocações mais longas nestas condições até agora registadas.

Uma das explicações é que este tipo de embarcações dispõem de uma área protegida no interior do suporte do leme e da hélice, que, embora desprotegida do frio, permite algum resguardo da ondulação, sendo, no entanto, "de extremo risco porque não protege completamente do tempo adverso e do mar se este estiver com ondulação ligeiramente acima do normal, o quer acontece em todas as viagens nesta parte do mundo e nesta altura do ano", explicou fonte da Marinha espanhola.

Os três homens estiveram 11 dias no mar nestas condições, tendo aguentado a jornada de 2.700 milhas náuticas, o equivalente a pouco mais de 5.000 quilómetros.

A procura das Canárias como destino para os imigrantes africanos que procuram chegar a território europeu é já bem conhecido e durante vários anos, especialmente na primeira década deste século, as autoridades locais viram chegar às costas destas ilhas localizadas ao largo de Marrocos, no Oceano Atlântico, dezenas e dezenas de milhares de pessoas.

Navegando em frágeis pirogas de madeira a partir das costas, primeiro, marroquinas, e depois da Mauritânia, especialmente das imediações da cidade portuária de Nouadhibou, junto à fronteira com Marrocos, milhares de pessoas, de países como o Níger, Mali, Senegal, Guiné, Nigéria... chegaram às Canárias... mas muitas centenas morreram pelo caminho a tentar alcançar o "el dorado", como era conhecida então a Europa.

Hoje, a chegada à Europa dos milhares de africanos que continuam nesta demanda acontece mais nas costas do Mediterrâneo, em países como a Itália, Grécia, Malta, ou mesmo Espanha, e, ultimamente, Portugal, a partir de Marrocos.