E "o cara!" não deixou os créditos por mãos alheias, porque chegou à China e logo disse ao que ia..., dando um impulso aos BRICS (organização global que inclui Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) e está à beira de evoluir para BRICS+ devido às inúmeras candidaturas para aderir a esta plataforma internacional que já supera em PIB o G7 das potências ocidentais (EUA, Reino Unido, França, Itália, Japão, Canadá e Alemanha), assistindo à cerimónia de posse de Dilma Rousseff, a sua sucessora no Palácio do Planalto, desta feita à frente do recém-criado Banco dos BRICS ou, oficialmente, "Novo Banco de Desenvolvimento (NBD).
E no seu discurso mostrou que o Brasil está de volta ao centro do palco da vida diplomática global, depois de quatro anos em que Jair Bolsonaro optou pelos camarins das traseiras e de porta fechada ao mundo.
Lula da Silva explicou que os BRICS são, para si, uma plataforma estratégica ao se colocar claramente ao lado da China e da Rússia, mas também da Índia e da África do Sul naquilo que parece ser um plano concertado no qual o Brasil foi mantido de fora devido à postura do antigo Chefe de Estado, quando questiona o porquê de "todos os países precisarem fazer seu comércio ancorado no dólar" norte-americano.
Mas mais que isso, defendeu que todos os países, especialmente dos BRICS, devem negociar nas suas trocas comerciais nas suas moedas nacionais, "desdolarizando as suas economias", o que merceu um forte aplauso da plateia que assistia à cerimónia de tomada de posse da ova presidente do NBD.
Lula tinha, no entanto, mais: defendeu que o Banco dos BRICS vai permitir a esta organização, à qual devem aderir em breve um grupo de países que pode ir da Arábia Saudita à Indonésia, da Argélia à Argentina, defender os membros das "instituições financeiras internacionais", como o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial (não os mencionou pelo nome) que "visam subjugar" a generalidade dos países, especialmente, frisou, os membros dos BRICS.
"Somos capazes de gerar mudanças sociais e económicas relevantes para o mundo e queremos esta oportunidade há muito, para expandir as nossas potencialidades que permitam garantir melhores condições de vida aos nossos povos. Não edstamos contra ninguém!", explicou.
Citado pela imprensa brasileira, Lula disse ainda que todas as noites se questiona sobre o porquê de não se poder proceder a trocas comerciais nas moedas nacionais e ser quase uma obrigação recorrer ao dólar.
"Porque é que não podemos ter o compromisso de inovar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda depois que o ouro desapareceu como paridade? Por que não foi o yen? Por que não foi o real, o peso? Porque as nossas moedas eram fracas, não tinham valor em outros países. Então escolheu-se sem levar em conta a necessidade de que precisamos de uma moeda que transforme os países em uma situação mais tranquila", apontou, naquilo que é claramente a defesa da criação de uma moeda BRICS alternativa à moeda norte-americana..
Esta visita de Lula da Silva à China, que as imagens não desmentem, tem para Pequim e para o Presidente Xi Jinping uma importância bastamente superior às recentes estadias no país do Presidentes francês, do primeiro-ministro espanhol, ou do chanceler alemão, sendo isso ainda mais evidente, pela forma secundária como foi recebida a presidente da Comissão Europeia, no que toca à União Europeia.
Entretanto, além desta questão, no qual se insere ainda a visita à Huawei, a tecnológica chinesa que é fortemente perseguida pelos Estados Unidos com sanções politicamente motivadas, Lula vincou bem a importância desta multinacional chinesa que impressionou o Presidente brasileiro que foi ao Twitter falar de "uma apresentação sobre 5G e soluções em telemedicina, educação e conectividade" que o levou a concluir que se trata de "um investimento muito forte em pesquisa e inovação".
E para torcer ainda mais a alfinetada em Washington, Lula da Silva manteve uma reunião com o director executivo da HUawei, Liang Hua, que a própria imprensa brasileira escreve que é "algo que pode gerar desconforto com os EUA frente às tensões sino-americanas"
Em Xangai, Lula deu a sua primeira conferência de imprensa onde esclareceu que, efectivamente, o Brasil "está de volta" depois de quatroanos no buraco Bolsonaro, adiantando que o país e ele pr+oprio têm hoje uma tarefa nova, que não tínham há dez anos, que é "combater o ódio que estava congelado, que pensávamos que não existia mais".
"Além de cuidar de tudo, ainda temos que cuidar da cabeça da Humanidade que está sendo transformada. Acho que estamos sendo tratados como algoritmo, e é preciso que o humanismo reaja", defendeu.
O Chefe de Estado brasileiro puxou da sua costela humanista, que o alcandorou à condição de "o cara!" como dele disse Barack Obama em 2009, afirmando que "não pode haver uma sociedade sem coração, fraternidade e solidariedade", e é por isso que é preciso "voltar a ser generoso". "Precisamos derrotar o individualismo que toma conta da Humanidade, que nasceu para viver em comunidade", apontou ainda.
E, indo directo às regras ocidentais, contrariou a ideia de "não é possível" admitir a ideia de que um país não pode contrair dívidas, desde que seja para construir activos. A ferramenta deve estar a disposição do Sul Global para alavancar seu desenvolvimento", referindo-se ao NBD.
Usando como exemplo o resgate que o governo suíço fez do banco Credit Suisse, o Presidente brasileiro, acrescentou que "é esse mundo que nós temos que enxergar, que ver. Não esse mundo obscuro de pessoas que parecem génios e quando quebra, como quebrou o Lehmann Brothers em 2008, quem tem que arcar com as contas é o Estado".
"Com a quebra do Credit Suisse, que dava lição de sabedoria em todos os países do mundo, quem teve que salvar o banco foi o governo da Suíça pondo 8% do PIB do país", ironizou Lula.
Nesta visita, que tem na agenda em traço grosso o encontro com o anfitrião Xi Jinping, emerge e pano de fundo a questão ucraniana, à qual Lula ainda não se referiu nesta visita mas que antes de embarcar sublinhou a possibilidade de criar com a China um grupo de países que levem a paz à Ucrânia através do diálogo com Kiev e Moscovo.
O que Xi e Lula vão organizar neste capítulo é uma das grandes expectativas do mundo.