Com a ameaça presente, especialmente devido à imprevisibilidade das muitas facções e grupos que se digladiam no país, esta visita do Papa Francisco ao Iraque mostra bem a importância que tem para a cristandade, sendo hoje terra de entre 300 mil a 500 mil cristãos mas que já foi, ainda há menos de uma década, lar de mais de 1 milhão.

Na sua maioria, os cristãos do Iraque, a mais antiga comunidade cristã em todo o mundo com presença contínua num território, que era tolerada e protegida durante o regime de Sadam Hussein, deposto pela invasão norte-americana em 2003, foram obrigados a fugir para a Europa e alguns países vizinhos mais tolerantes, pressionados pelo radicais islâmicos que ocuparam o território à medida que as forças da coligação internacional liderada pelos EUA foram deixando a região..

Muitos foram mortos e os templos cristãos foram quase todos destruídos ou parcialmente destruídos depois de transformados pelo estado islâmico em cadeias e tribunais corânicos. Na sua maioria são de origem Assíria com traços culturais e linguísticos aramaicos, sendo ainda relevante a presença de cristãos árabes e arménios.

As cidades iraquianas de maior concentração histórica de cristãos são, além de Bagdad, Basra, Mosul, Erbil, Dohuk, Zakho e Kirkuk , ou ainda Nineveh.

Francisco, aos 84 anos, é o primeiro Papa a visitar o Iraque e esta será, seguramente, uma marca de relevo do seu papado, não só pelo risco inerente, seja pelas armas, seja pela pandemia da Covid-19, mas também porque se reveste de uma aposta clara na recuperação das comunidades cristãs no país e ainda um incentivo para a reconstrução de algumas igrejas, entre estas estão das mais antigas do mundo.

Para já, a azafama, como revelam as agências de notícias, é grande em Bagdad e nas cidades que vão receber Francisco, estando no mapa da visita mais de 1.400 quilómetros entre carro, helicópteros e avião, com áreas ainda não totalmente limpas de radicais islâmicos equipados com lança-roquetes e outro armamento.

Francisco vai estar, entre outros locais, além de Bagdad, em Mossul, a terceira maior cidade do país e que foi o epicentro da actividade do estado islâmico, onde rezará pelas suas vítimas e de outras organizações radicais, passará ainda por Ur, a capital dos sumérios, que a tradição cristã aponta como a terra natal de Abraão.

Esta visita tem ainda uma forte componente política porque o Iraque é um país maioritariamente xiita, o mesmo grupo etno-religioso do Irão e da Síria, porque abre o país ao mundo, e surge depois de Francisco ter visitado os Emirados Árabes Unidos (na foto), país de maioria sunita, o outro grande grupo religioso do Islão e tradicionalmente de relacionamento difícil ou mesmo inimigos mortais na perspectiva dos radicais de um e do outro lado.