A falta de financiamento, a ausência de atenção por parte dos órgãos de comunicação social e a omissão da diplomacia estão na origem deste "esquecimento", segundo o NCR, que lembra que a RDC tem "mais de cinco milhões" de deslocados internos e onde um milhão deixou o seu país e fugiu para países vizinhos, onde vivem como refugiados.

"A República Democrática do Congo é uma das piores crises humanitárias do século XXI - uma combinação letal de violência crescente, níveis recordes de fome e abandono total desencadeou uma megacrise que justifica uma megarresposta, disse o secretário-geral do NRC, Jan Egeland, que apresentou o relatório em Goma, no leste da República Democrática do Congo.

"Em vez disso, milhões de famílias à beira do abismo parecem ser esquecidas pelo mundo exterior e deixadas de fora de qualquer linha de apoio ", afirmou.

Vários conflitos aumentaram nas partes orientais do país, forçando 6.000 pessoas a abandonar suas casas todos os dias no ano passado, tornando-se a crise com o maior número de novos deslocados devido ao conflito no mundo.

"No último fim-de-semana, quase 4.500 casas foram destruídas quando um vulcão entrou em erupção nos arredores de Goma (ler aqui e aqui), despertando o interesse dos media por pouco tempo", acusou, lembrando que "os congoleses são atingidos por uma crise de dimensões vulcânicas todos os dias devido à violência e ao conflito", mas que "infelizmente, quando não há erupção vulcânica, os milhares que fogem de suas casas a cada dia passam despercebidos ", disse Egeland, acrescentando que "eles não chegam às manchetes, raramente recebem visitas de doadores de alto nível e nunca são priorizados pela diplomacia internacional".

Nesta lista anual do Conselho de Refugiados da Noruega, a RDC é seguida pelos Camarões, Burundi, Venezuela, Honduras, Nigéria, Burkina Faso, Etiópia, República Centro-Africana e Mali.

Camarões, que liderou a lista em 2018 e 2019, é afectado por ataques do grupo "jihadista" nigeriano Boko Haram no extremo norte, que forçaram "mais de 300.000 pessoas a fugir de suas casas", refere o relatório.

Fora de África, O NCR destaca a crise na Venezuela: "Os venezuelanos continuaram a sofrer com a pressão de sete anos de queda livre económica e hiperinflação, além de um impasse político em 2019 causado pelo presidente da Assembleia Nacional liderada pela oposição, que se declarou chefe de Estado".

De acordo a organização humanitária, mais de cinco milhões de venezuelanos fugiram do país devido à "repressão e à escassez de alimentos e medicamentos desde 2014, tornando-se uma das maiores crises de deslocados do mundo".

"Embora o fluxo de pessoas para fora da Venezuela em 2020 tenha sido travado pelo encerramento das fronteiras e restrições de movimento devido à pandemia (covid-19), as medidas levantaram problemas de protecção para refugiados e migrantes em trânsito", declarou Jan Egeland.

As Honduras entram nesta lista pela primeira vez, "devastada por duas tempestades tropicais em 2020" e "anos de insegurança alimentar crónica, gangues de criminosos, violência de género, alterações climáticas e desemprego generalizado agravado pelas consequências económicas da covid-19", que levaram dezenas de milhares de pessoas a embarcar "em viagens perigosas em busca de segurança no México e nos Estados Unidos".

A pandemia da covid-19, diz Egeland, veio piorar a situação de cada um destes países, "fazendo com que milhões de pessoas que já lutavam para sobreviver em crises negligenciadas ficassem ainda mais para trás".

"Pela primeira vez neste século, os apelos humanitários globais para apoiar as operações de ajuda foram financiados em menos 50 por cento em relação ao ano anterior, referiu, afirmando que em algumas das crises negligenciadas, apenas um terço do que era necessário foi recebido, mesmo para aquilo que é considerado auxílio vital.

"Este ano, o apelo de ajuda para a República Democrática do Congo foi financiado apenas em 12% até ao final de Maio", expôs.