"Ordenei ao nosso ministro dos Negócios Estrangeiros que tratasse, o mais rapidamente possível, da declaração desses 10 embaixadores como "persona non grata"", disse Erdogan durante uma viagem ao centro da Turquia, sem, no entanto, fornecer uma data específica, escreve a Lusa.

Esses embaixadores "deviam conhecer e compreender a Turquia", reforçou Erdogan, acusando-os de "indecência" e sublinhando que "terão de deixar" o país.

A França, a Finlândia, a Dinamarca, a Alemanha, os Países Baixos, a Noruega, a Suécia, o Canadá, os Estados Unidos e a Nova Zelândia pediram, em comunicado conjunto divulgado na segunda-feira, um "acordo de libertação justo e rápido para o caso" Osman Kavala, empresário e mecenas turco considerado opositor do regime e está há quatro anos preso sem ter sido julgado.

A Turquia convocou, entretanto, os embaixadores para lhes dizer que o pedido de libertação de Osman Kavala era "inaceitável".

Kavala, de 64 anos, é uma figura importante na sociedade civil, tendo sido acusado em 2013 de tentar desestabilizar a Turquia ao apoiar protestos anti-governamentais, conhecidos como movimento Gezi (por terem decorrido no Parque Taksim Gezi), em que 2016 de tentar "derrubar o Governo".

Em Dezembro de 2019, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (CEDH) ordenou a sua "libertação imediata", mas Osman Kavala continua na prisão até pelo menos 26 de Novembro, de acordo com uma decisão de um tribunal de Istambul.

O Conselho da Europa ameaçou recentemente impor sanções à Turquia já na sua próxima sessão (que decorre entre 30 de Novembro a 02 de Dezembro) se o opositor não for libertado até essa altura.

Este é um dos motivos que levaram Ancara a procurar uma "ponte" sem portagens artificiais entre a potência euro-asiática e o continente africano (ler aqui).

Este redesenhar das prioridades turcas, claramente viradas para África, mas também para o Médio Oriente e os vizinhos asiáticos, começou a ser erguido quando a sua aposta para entrar na União Europeia começou a esmorecer devido aos fortes entraves colocados por Bruxelas, nomeadamente exigências no âmbito das liberdades democráticas e Direitos Humanos.

Mas foi na promessa de "um mundo mais justo" que Recep Erdogan alicerçou o seu discurso inicial logo na manhã de segunda-feira, em Luada, com a qual justificou este caminho de Ancara para o continente-berço de todas as oportunidades nesta era em que as velhas potências como os EUA ou mesmo França e Reino Unido começam a perder terreno para outras que se aglomeram em busca de oportunidades, como Espanha, com o seu "Foco África 2023" ou a Turquia, que já está alicerçada em países como a Guiné-Conacri, a Líbia ou a Etiópia, disputando "terreno" com a própria China, que é hoje, de longe, a mais impactante presença externa no continente, muito por causa das infindáveis linhas de crédito escoadas para África nos últimos 20 anos.

E uma linha de crédito de 500 milhões USD foi precisamente um dos trunfos com que Erdogan se apresentou em Luanda, nesta visita que foi realizada de forma acelerada depois de João Lourenço ter estado na Turquia em Julho último, mostrando essa celeridade que Ancara encara Angola como um pilar estruturante da sua aposta africana.

Erdogan deixou Angola com um conjunto de sete instrumentos jurídicos (acordos) assinados, que visam reforçar outro conjunto de documentos semelhantes assinados em Ancara, no mês de Julho, aprofundando a cooperação bilateral nas áreas, entre outras, da indústria, agricultura, defesa, energia, turismo, educação...