Com autonomia administrativa e financeira, a instituição passa a ter vida própria, ganha projecção, respeito, autoridade e dignidade. Deixa de ser apenas uma direcção do MIREX "espalhada" por vários andares do edifício no Largo dos Ministérios, reduz as burocracias e interferências, passa a ter condições para fazer a necessária "prova de vida" junto das comunidades angolanas espalhadas pelo Mundo. E outro dado não menos importante: acaba com a ideia de que o ICAESC existe apenas para autenticar documentos e emitir passaportes diplomáticos.

Tenho dito, neste espaço, que é preciso reinventar o espaço de abordagem diplomática com as nossas comunidades no exterior. Isso faz-se com estratégia, com instituições fortes, preparadas e capacitadas para tal e que tenham as pessoas como o centro da sua actuação. Para muitos angolanos na diáspora, o ICAESC é uma instituição que não lhes "aquece e nem arrefece", é uma instituição que não faz "prova de vida" junto destas comunidades, é uma instituição que não participa, não comunga da sua ideia da construção de comunidades angolanas mais coesas, mais activas, inclusivas e participativas. Com esse novo quadro, ficam agora criadas condições para que o MIREX, via ICAESC, crie um novo pacto com a nossa diáspora, em que ela (a diáspora) seja parte activa e integrante de uma estratégia nacional de pensamento e acção diplomática. Apoio/ protecção, inclusão/integração, cidadania, educação, cultura, comunicação e participação cívica. A diplomacia de alteridade, que reconhece e percebe o outro e respeita as suas diferenças.

Estes momentos de reaproximação, de reforço de relações entre diplomatas e as comunidades, já tinham sido dados (ainda que de forma muito embrionária) pela embaixadora Maria Filomena do Rosário Neto António (nomeada em Novembro do ano passado) e a sua equipa em encontros em Maio último na Zâmbia, na RDC e no Congo- Brazzaville, sendo que, para além dos países limítrofes, a estratégia passará, certamente, por encontros com outras comunidades angolanas espalhadas pelo mundo.

Uma boa parte da diáspora angolana sente-se excluída, desprezada, destratada e desvalorizada pelo Estado e seus representantes. E estas aproximações ou estas abordagens funcionam como uma espécie de pedagogia dos afectos, uma diplomacia de proximidade que, de certa forma, compensa os silêncios, as ausências, as carências e as saudades da terra. Diz a notícia do NJ on-line que o ICAESC "(...) deverá prestar assistência às comunidades estrangeiras residentes em Angola, acompanhar e promover acções de carácter social e cultural que concorram para o espírito de solidariedade entre os angolanos residentes no território nacional e na diáspora, incentivar a criação e a coesão dos movimentos associativos no seio das comunidades angolanas no exterior", aqui tem também responsabilidades na relação que deve existir entre os angolanos que estão em Angola e na diáspora, promover um novo olhar de dentro para fora e vice-versa, criando condições que os milhares de quadros angolanos, muitos deles de competência técnica, académica e profissional reconhecidas, possam contribuir com o seu engenho e arte para o desenvolvimento de Angola.

A "despartidarização" de alguns movimentos associativos e a inclusão de outros com experiência comprovada e trabalho realizado são tarefas importantes em países onde o associativismo comunitário tem tradição e onde muitos angolanos têm dado cartas. A estruturação e a implementação das Casas de Angola pelo Mundo são elementos importantes para a união e coesão dos angolanos em torno dos valores e ideias da Pátria, bem como da promoção da cultura e identidade dos nossos povos.

A elaboração e a aprovação da Carreira Consular deverá ser um dos próximos desafios do ICAESC, que deverá ter outro impulso na sua actividade diplomática, bem como na organização, promoção e valorização de quadros. Será importante para uma justa estrutura e consistência política de quadros por parte da instituição. Não basta que tenha ou admita os quadros, é importante que a instituição tenha o domínio, o controlo e o acompanhamento dos quadros em Angola e no exterior, e que não seja constantemente ultrapassada por alguns ingressos/enquadramentos em função de privilégios de nascimento ou de conveniências partidárias ou afectivas.

Outra questão é o ICAESC ter instalações próprias, dignas de acomodação dos seus funcionários e de um atendimento de qualidade e eficiente aos utentes, e até mesmo aos seus colegas do MIREX. É importante que deixe de ser uma instituição que está "partida" ou distribuída por diferentes andares do edifício do MIREX, no Largo dos Ministérios.