O primeiro barco que saiu com cereais de um porto da Ucrânia, no dia 1 de Agosto, o "Razoni", com 26 mil toneladas destinadas à Líbia, será seguido por outros, permitindo que, até ao final do ano, a Ucrânia escoe cerca de 25 milhões de toneladas de cereais que se encontravam bloqueados.

Para além do papel que teve Erdogan, há que registar que a Rússia, consciente do mal-estar da sua população com a subida do preço dos alimentos, sentiu que o acordo também a beneficiaria, fazendo atenuar sanções sobre os transportes e possibilitando ainda a comercialização dos seus próprios cereais, bem como os fertilizantes de que é um dos principais produtores mundiais.

O papel de António Guterres foi mais uma vez relevante.
O que há aqui de salientar é que, tendo a Ucrânia e a Rússia mais de 30% da produção mundial de cereais, o acordo a que se chegou, embora insuficiente para colmatar as necessidades alimentares de muitos países africanos e do Médio Oriente, reflecte um importante contributo para que a fome mais grave possa ser minorada.

Há, por isso, que sublinhar ainda que, só em alguns países da África Oriental, como a Etiópia, a Eritreia, a Somália, o Quénia e o Sudão do Sul, mais de 20 milhões de pessoas, apresentam níveis de fome muito graves.

Ao contributo do acordo em si para mitigar a fome acresce o facto de ele possibilitar a diminuição do preço dos alimentos no comércio internacional.

Angola, não obstante as suas invulgares potencialidades, importa mais da metade dos bens alimentares de que necessita e, em rigor, cerca de 90% das explorações agrícolas são de subsistência, cultivando-se no país pouco mais de 10% da terra arável, razão que explica também as bolsas de fome existentes aliadas à pobreza.

Porque o mundo não pára, apesar da campanha eleitoral que se desenvolve - e bem - em Angola, os responsáveis e os partidos políticos concorrentes às eleições terão de saber retirar as consequências deste quadro, respondendo às exigências dos cidadãos carenciados e à satisfação de necessidades básicas de subsistência.

Há, por isso, e apropriadamente, que dizer que a fome nunca foi boa conselheira.

*(Secretário-geral da UCCLA)