À semelhança dos EUA e do Reino Unido, a dimensão militar esteve igualmente na origem da relação especial entre Angola e Cuba. A sua proto-história remonta à I guerra de libertação nacional, em que um dos momentos relevantes foi o encontro entre Agostinho Neto e Che Guevara, havido em Janeiro de 1965, no Congo Brazzaville. Naquela ocasião, encontrando-se o Estado angolano ainda em gestação e o povo em luta armada pela sua auto-determinação e independência, Agostinho Neto solicitou a Che Guevara o apoio de Cuba. Anuído que foi o pedido, em meados de 1965, seis instrutores e assessores cubanos juntaram-se aos efectivos de guerrilheiros que operavam em Cabinda. Um segundo momento da proto-história desta relação especial, ocorreu em 1966, ano em que, acompanhado de Hoji Ya Henda, Neto deslocou-se à Cuba e dialogou com Fidel Castro.

Subsequentemente, a solidariedade e a cooperação estratégica entre o MPLA e Cuba foram alavancadas. Exemplo frisante disso foi a Coluna Camilo Cienfuegos: sob o comando de Monstro Imortal e Valódia, a Coluna palmilhou, em 1966, da fronteira norte à Nambuangongo, na histórica 1ª região políticomilitar, cuja contribuição para a independência evoca uma epopeia grandiosa. Não surpreende pois, que, Nambuangongo tenha sido a musa inspiradora de diversas obras literárias, sendo de destacar o romance homónimo da autoria do político e diplomata João Bernardo de Miranda.

A revolução dos cravos em Portugal constituiu-se como um fio condutor da transição da proto-história à história da relação especial entre Angola e Cuba. Um dos marcos desta transição foi a conquista da independência de Angola, numa época de pico da guerra fria e de extrema polarização ideológica a nível mundial, nomeadamente na ONU. No seu livro de memórias In the Eye of the Storm (1985), o ex-Secretário-Geral da ONU, Kurt Waldheim, sublinhou o facto de, após o 25 de Abril de 1974, Portugal ter desejado e diligenciado para que Angola passasse a ser temporariamente administrada por uma autoridade executiva das Nações Unidas. Waldheim discordou da ideia. Na sequência do ""Não,"" recebido da ONU, dentre outros factores endógenos e exógenos, Portugal resignou ao direito legítimo de organizar e liderar a descolonização. Abdicou das suas responsabilidades, tendo abandonado a jóia do império colonial e criado o vácuo de poder na véspera da proclamação da independência. Daí que, para Chester Crocker, o abandono de Angola à sua sorte representou um dos mais confusos e mais irresponsáveis actos de descolonização verificados no período pós-1945 (Herding Cats, 1999).

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*Embaixador