Como se enterrando a cabeça na areia resolvesse o problema. Durante décadas escrevemos a lápis. Como se uma esponja tivesse apagado a nossa memória.

Durante décadas fingimos transparecer ser portadores de uma imagem tão cristalina como a água. Como se tivéssemos projectado a nossa folha de serviços sobre uma tela que parecia pintada a cor-de-rosa.

E sobre um passado romantizado de glórias. O nosso passado, é claro!

Durante décadas vivemos convencidos de que esse passado fora isento de traições...

Não, não foi. Mas foi assim que crescemos. Foi assim que maquilhámos a nossa existência. Foi assim que nos transformámos em seres postiços. Foi assim que idolátramos monstros, fabricámos heróis e mistificámos a história.

Uma história isenta de ciladas? Não, não foi. E não foi porquê? Desde logo por causa do tiro da largada. Foi um tiro em falso.

Na hora da partida, um muro, que não o de Berlim, mas que fora construído com os mesmos materiais oxidantes, estabelecia uma fronteira protegida com cerca eléctrica.

De um lado, "nós". Do outro lado, "eles". De um lado, os bons. Do lado oposto, os maus.

E assim projectámos herdar um passado que aparentava ser livre de infidelidades. Um passado que arrotava traições mas só atribuíveis ao outro lado.

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