O governante não prometeu apoio com fundos do Governo da Província. Ele vai interceder junto de empresas mineradoras da região e instituições públicas do sector diamantífero, para que o representante local tenha um "reforço financeiro" que lhe permita desempenhar-se ao mais alto nível na principal prova de clubes de África. O empenho do governador na mobilização de recursos financeiros, segundo ele próprio, é "para que não faltem e não atrasem os apoios financeiros ao clube".
O que Ernesto Muangala prometeu fazer é digno dos maiores encómios, porque, mesmo não tendo dinheiro no orçamento da província para auxiliar agremiações desportivas de alto rendimento, demonstrou preocupação com um dos símbolos mais importantes da Lunda-Norte. Ao advogar a causa do Sagrada Esperança, o governador está, de alguma forma, a confortar os lundas, uma vez que a colectividade diamantífera é uma verdadeira paixão das gentes da região, que lhe tributam dedicação a rodos.
De certo modo, a intervenção do governador é serôdia, pois, depois de o Sagrada Esperança sagrar-se campeão nacional da temporada passada, já se sabia que participaria nas "Afrotaças". Seria naquela ocasião em que a advocacia de Ernesto Muangala deveria ter iniciado. Se assim fosse, muito provavelmente o Sagrada Esperança não tivesse de realizar os seus desafios da Liga dos Campeões da CAF distante do Dundo, com o que privou os seus adeptos das façanhas que vem realizando na prova.
Objectivamente, sequer seria necessário que o Sagrada Esperança fosse campeão nacional para merecer o apoio de toda a sociedade lunda e não só. Por si só, a dimensão do clube justifica intervenção permanente das autoridades governativas locais, visto tratar-se de um das maiores marcas da província e da região.
De resto, as condições impostas pela CAF para a aprovação de um estádio para as "Afrotaças" estão longe de ser draconianas. Bastava que o recinto diamantífero tivesse relvado de alta qualidade, com um sistema de rega eficiente, projectores de luz de pelo menos 1200 LUX (no caso de jogos nocturnos), bancos para equipas e oficiais, assentos individuais para espectadores feitos de material não inflamável, vestiários de padrão internacional, instalações sanitárias funcionais para espectadores, certificado de segurança e incêndio, instalações de primeiros socorros e tratamento para atletas, oficiais e espectadores, assim como sala de controlo do estádio, pelo menos seis mastros, instalações para a media e hospitais ao redor.
Sábado próximo, 8, o estádio do Sagrada Esperança será alvo de inspecção da CAF para saber se está em condições de voltar a acolher partidas das "Afrotaças", depois de, no início do ano passado, ter sido ignorado por culpa da FAF. Os problemas de que enfermavam o recinto do Sagrada Esperança até não são graves. São relativamente fáceis de resolver, inclusive o do relvado que nos dias de hoje é um tapete já preparado para ser instalado.
De qualquer modo, como diz a sabedoria popular, antes tarde do que nunca, ou seja, se na altura em que devia estender a mão ao Sagrada Esperança para que pudesse jogar em "casa" não o fez, agora corrige a falha. Ao buscar apoios para a formação do Dundo, o governador da Lunda-Norte não só demonstra entender que o Sagrada Esperança é património da província e das suas gentes, como expressa respeito e consideração pelo que tem sido feito por oficiais e atletas do clube.
Embora pouco tenha de extraordinário, o gesto de Ernesto Muangala merece aplausos, em razão do descaso que faz escola quando o assunto é apoio institucional ao desporto. Afinal, muitos governadores ou administradores municipais não ligam a mínima aos emblemas locais engajados em provas nacionais de nomeada ou em competições continentais. Em inúmeras ocasiões, ano após ano, vimos e ouvimos pedidos lancinantes de socorro por parte de dirigentes de clubes a competir nas principais provas e os governos ou administrações locais fazem ouvidos de mercador. Como se nada fosse com eles.
Muitas vezes, mesmo quando vêem equipas das suas áreas passarem vergonha ou em risco de descida de divisão, sequer mexem uma palha, o que não deixa de ser intrigante. Muito mesmo, uma vez que o governo e a Sociedade de um modo geral têm no desporto uma escola de virtude, uma actividade que contribui em grande medida para formação do carácter do Homem.
É dado adquirido que nos orçamentos dos governos provinciais não há uma rubrica específica para o desporto. Do mesmo modo, também não há um título para apoiar concursos de Misses. Ainda assim, em várias ocasiões houve concursos de beleza patrocinados por governos provinciais. Ora, da forma como está desenhado o Orçamento Geral do Estado, olhando bem para as classificações das despesas, há sim como auxiliar o desporto. Principalmente o desporto jovem. Para o efeito, basta que haja vontade política.
As rubricas do orçamento de Cabinda, por exemplo, não diferem do das demais províncias do País. Mas isso não impediu que o Governo local, no consulado de Aníbal Rocha, prestasse todo o apoio ao desporto, financiando inclusive o PROMADE, um ambicioso projecto de formação de atletas que sucumbiu após a exoneração do então governador, mas ainda deu frutos.
Em tese, é sim possível aos governos provinciais apoiarem o desporto. E há várias formas de o fazer, que não seja apenas despejar dinheiro numa agremiação desportiva. Por exemplo, melhorar os acessos a recintos desportivos ou iluminar um determinado estádio já é alguma coisa. Mas a maioria dos governos está-se borrifando para o desporto. É curioso que, mesmo assim, quando uma equipa local ganha uma prova nacional ou um jogador da província integra uma selecção nacional campeã continental, os governantes se acotovelam para figurar na primeira fila de figuras que vão dar as boas-vindas. Estranho!

Portanto, não colhe a desculpa de que os governos provinciais não têm forma de auxiliar o desporto. Imitar o gesto de Ernesto Muangala podia ser o caminho, o exemplo a seguir. Não custa nada e sequer o governador gasta combustível do automóvel, porque são os empresários que se deslocam para a reunião com o "chefe".