O emblema do Huambo é um dos históricos do futebol angolano, sendo o que mais presenças marcou na elite do futebol nacional entre os clubes da província. Também é (ou pelo menos foi) dos mais importantes alfobres de talentos do futebol nacional. Almeida, Luís Bento, Muluzi e Saavedra são "só" alguns dos nomes que se vestiram de preto e branco e também tiveram a honra de envergar a jersey da Selecção Nacional. Portanto, não nos referimos a um clube qualquer. Estamos a falar do Petro do Huambo que, inclusive, já representou o País nas "Afrotaças".

Quem acompanha o desporto angolano desde os primórdios da independência nacional não pode ficar indiferente ao descaso a que a SONANGOL votou o Petro do Huambo. Curiosamente, refundado a partir do Atlético de Nova Lisboa, foi o primeiro "clube dos petróleos", sendo, por isso, o "irmão mais velho" de uma catrefada de Petros que foram surgindo com o auxílio da então concessionária nacional de hidrocarbonetos. Foi no dia 5 de Janeiro de 1982 que nasceu o Petro do Huambo, seguindo-se o de Luanda, celebrando, exactamente hoje, 14 de Janeiro, o 42.º aniversário.

Desafortunadamente, a situação do Petro-Atlético do Huambo é transversal à generalidade dos clubes nacionais, inclusive a maior parte que integra a I Divisão do futebol nacional. Muitos emblemas outrora históricos definham na indigência e ameaçam afogar-se na furiosa maré de dívidas que se lhes apresenta, porque não tiveram a sorte de mamar do OGE, como uns poucos "eleitos", nascidos num contexto sócio-político peculiar logo após a independência do País.

Depois de 1975, turvadas pelo fervor revolucionário, as autoridades queriam extirpar da sociedade tudo o que fizesse lembrar o passado colonial. Por isso, varreram do mapa desportivo nacional nomes como Benfica, Sporting, Belenenses e até FC que vestissem de azul e banco com o grémio da cidade do Porto, Portugal. Nesse processo, muitos tiveram que mudar de designação, resgatando depois a nominação original, ao passo que outros sucumbiram. Um exemplo perene disso mesmo foi o FC Luanda, que viu a Cidadela Desportiva ser nacionalizada pelo Estado, sem um chavo de indemnização.

No calor da revolução, surgiram novos entes desportivos, quase todos sem infra-estruturas adequadas ao desporto de rendimento. Por esta razão e em obediência às orientações do I Congresso do MPLA (Dezembro de 1977), vários clubes tiveram o suporte de ministérios ou de empresas públicas. Em 1991, porém, com a transição do País para o regime político multipartidário e para a economia de mercado livre, grande parte das colectividades desportivas perdeu o auxílio procedente de entes governamentais. Em consequência, muitos clubes fecharam as portas por falta de dinheiro.

O que está a acontecer com o Petro-Atlético do Huambo é a regra com raríssimas excepções. Na verdade, mesmo essas excepções já não o são tanto assim. Atente-se, pois, às dificuldades por que passa o 1.º de Agosto que até já vai tendo salários em atraso e recentemente teve que despedir grande parte da sua força de trabalho administrativa. Os tempos estão inclementes para todos. Não só para o Petro do Huambo, que só não sucumbe graças à força da sua rica história quase centenária, se na contagem levarmos em consideração os anos anteriores à independência nacional.

Como o Petro do Huambo, está o histórico Progresso Associação do Sambizanga, o primeiro emblema nascido no pós-independência (16 de Novembro de 1975). Do modo como vem ziguezagueando no Girabola, em razão dos sérios problemas financeiros que atravessa, não tarda vai descer de Divisão e, posteriormente, pode também fechar as portas. Depois passarão à memória outras agremiações desportivas, o que deixará a competição doméstica fragilizada. Num cenário destes, muito dificilmente o País pode aspirar a um título continental de clubes ou a uma boa prestação ao nível de Selecções.

Este problema não é exclusivo do futebol. Nas outras modalidades, inclusive basquetebol e andebol, que já deram muitas alegrias ao País, a situação é semelhante. E os resultados estão à vista: no basquetebol masculino, Angola perdeu a hegemonia continental há quase uma década, e no andebol feminino são cada vez maiores as dificuldades para conquistar títulos africanos. Não nos espantemos se em Novembro próximo a Selecção Nacional não revalidar o título arrebatado em Julho último, nos Camarões. Se acontecer, será o curso natural das coisas...

Tudo isto tem a ver com o modelo de financiamento do desporto angolano, no qual uns clubes são sustentados directamente pelo OGE por via de empresas públicas ou ministérios e outros estão entregues à sua sorte. Isto faz com que haja gritantes assimetrias na competição interna. No futebol, no andebol e no basquetebol, as modalidades de topo do sistema desportivo nacional, há, no máximo, dois ou três clubes a disputar os títulos, o que é pouquíssimo. É quase risível até para um País que gasta montanhas de dinheiro com o desporto.

Desse modo, as principais equipas do País têm, no máximo, meia dúzia de jogos com alto nível de exigência competitiva e o resto é... paisagem. Em consequência, no futebol, por exemplo, Angola nada ganhou de significativo, com excepção do CAN Sub"20, em 2001, na Etiópia. Isto quer ao nível de clubes como de Selecções, em quase meio século de participações nas provas continentais. Mais: apesar de ter dominado durante largos anos o basquetebol e o andebol africanos, Angola integra a lista de países que jamais lograram conquistar uma medalha olímpica que seja. Uma só... nada!

Está claro que as equipas de clubes sustentados pelo erário são tão prejudicadas quanto os Progressos, os Petros do Huambo ou os Sportings, sejam de Luanda, Benguela ou Cabinda. São afectados porque não têm competição que lhes proporcione endurance competitivo suficiente para se baterem com paridade diante dos melhores do continente. Não é, pois, sem razão que apenas vez por outra (muito espaçadamente mesmo!) o futebol angolano aparece nas primeiras páginas do noticiário africano.

O cenário é de tal modo preocupante que, se o modelo de financiamento não for repensado e alterado imediatamente, chegaremos a um ponto - provavelmente não muito distante no tempo, em razão das dificuldades financeiras que a todos assola - que apenas três ou quatro clubes estarão em condições de jogar entre si em provas oficiais de seniores. E isto, não apenas no futebol. Obviamente, mesmo que se defrontem dezenas de vezes, jamais haverá competição.

Aqueles que se vangloriam como sendo integrantes de uma presumível "inteligência" do sistema desportivo nacional já deveriam ter feito algo para inverter o quadro.