Antes da disputa da BAL, que deveria ter "arrancada" em 2020 e não aconteceu em virtude da Covid"19, realizou-se, em 2019, a Liga de Basquetebol Africana (ABL, na sigla em inglês), uma iniciativa da Federação Internacional da modalidade (FIBA), que pretendia conferir outra dimensão competitiva à antiga Taça dos Clubes Campeões Africanos. A prova foi ganha pelo "papão" 1.º de Agosto, sendo a última organizada sob os auspícios da FIBA-África.
Pelos sinais emitidos, a BAL não foi desenhada tendo em atenção as especificidades da competição no "continente berço" e até de certos valores culturais. Isto, apesar de a prova ser patrocinada por algumas "estrelas" africanas que brilharam no firmamento da NBA. O desenho da BAL foi decalcado da NBA e aplicado, com muito poucas adaptações, em África. É um fato pronto a vestir-se, de tamanho XL, colocado em alguém de manequim M, sem ter ido ao alfaiate para os necessários ajustes, de modo a assentar na perfeição no usuário. O que os americanos pretendem é implantar uma NBA africana e ponto final, descurando aspectos cruciais.
Do ponto de vista competitivo, a prova não foi o sucesso que se esperava. Qualitativamente, salvo alguns poucos jogos, geralmente o nível esteve abaixo do que as últimas provas de clubes africanos ofereceram. Não havendo um instrumento que meça a qualidade de um desafio, ainda assim, arriscamo-nos a afirmar que o nível dos encontros da BAL andou abaixo da mediana. Houve poucas partidas ricas do ponto de vista técnico-táctico e do espectáculo em si. Não lembramos de nenhuma que tenha dado nas vistas, que tenha arrebatado verdadeiramente os amantes da bola cor-de-laranja.
Isto não aconteceu porque o desenho competitivo ignorou um passado recente que juntava na fase final as melhores formações do continente. Na BAL, não estiveram muitas das melhores equipas, porque, de acordo com o formato, cada país só pode competir com o campeão. Nesse caso, tradicionais emblemas do topo do basquetebol africano ficaram de fora, inclusive o 1.º de Agosto, que é o maior vencedor das provas de clubes do continente. O "rubro-negro" ganhou nove "Africanos", incluindo a solitária ABL. Agremiações como Al Ahly (Egipto), Mas Fez (Marrocos), Etoile du Sahel e Etoile Radès (Tunísia), assim como ABC e ASEC (Costa do Marfim) também estiveram ausentes. Com isso, a prova perdeu em qualidade e atractividade. Esses emblemas inscreveram o respectivo nome na lista de campeões continentais da última década ou chegaram à final.
Curiosamente, dos campeões e finalistas da Taça dos Campeões da década que antecedeu a BAL (2009-2019), só o Petro Atlético e o AS Salé estiveram em Kigali. No decénio em que não houve campeonato em 2018, os emblemas angolanos venceram a maior parte das edições, sendo excepção as de 2011 (Etoile du Sahel), 2016 (Al Ahly) e 2017 (AS Salé). Foram cinco títulos para o 1.º de Agosto, cabendo os restantes ao Recreativo do Libolo (2014) e Petro de Luanda (2015). Mais: nesse ínterim, só em 2017 não houve interveniente angolano na final, que em duas ocasiões (2009 e 2015) foi disputada entre clubes de Angola!
Vistos os factos sob este ângulo, é mister inferir que, ao optar pela salomónica decisão de cada país ser representado por um clube, a BAL afasta qualidade. Porque não é razoável que Angola, cuja história de títulos no basquetebol de clubes é sobejamente conhecida, compita só com um "embaixador". Afinal, conquistou 12 campeonatos em 15 finais das 31 edições disputadas em quase meio século. Em condições normais, Angola não pode ser colocada ao mesmo nível, por exemplo, que Rwanda, Argélia e Madagáscar, que se fizeram presentes na fase final da BAL, ou que Benin, Tanzânia e África do Sul, cujos campeões pleitearam também uma vaga na prova.