Cinco anos após a conquista da Independência Nacional, num período em que a jovem nação ainda procurava afirmar-se, no contexto global, no campo social, político e económico, acontece a primeira grande conquista do basquetebol angolano. Em Luanda, num jogo épico contra uma grande potência do basquetebol africano de então, a República Centro Africana, conquistámos o nosso primeiro campeonato africano na categoria de juniores.


No ano de 1981 conseguimos a nossa primeira medalha em seniores, na cidade de Dakar, Senegal, por obra e graça da nossa Selecção Nacional sénior feminina, que aí conquistou, honrosamente, um "bronze de ouro". Dois anos depois, em 1983, chegámos ao podium do basquetebol africano masculino pela primeira vez, ocupando o segundo lugar no campeonato africano disputado na cidade egípcia de Alexandria, para nunca mais daí sairmos por de 35 longos anos. O eterno professor Vladimiro Romero foi o treinador principal da Selecção Nacional, coadjuvado pelo nosso Tony Sofrimento, actual director para as competições da FAB, e pelo saudoso Beto Portugal.


Com a conquista do segundo lugar no campeonato africano de Abidjan em 1985, Angola teve a oportunidade de estrear-se no ano seguinte em competições mundiais, tendo realizado, logo no início da sua participação, um jogo memorável contra a sua aliada política e desportiva da época, a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, uma das potências da modalidade. Foi uma estreia mundial absolutamente memorável, tendo os bravos rapazes protagonizado a proeza de derrotar, copiosamente, a desenvolvida Austrália, chocando o mundo desportivo na altura.


Nos jogos pan-africanos de Nairobi, em 1987, acontece a nossa primeira grande conquista em seniores masculinos. Era uma ocasião em que jovens angolanos desta geração hasteavam a bandeira nacional pelos famigerados campos de combate de Kuito Kuanavale, defendendo-os, com bravura, de uma invasão estrangeira protagonizada pelas tropas pertencentes ao ignóbil regime do Apartheid da África do Sul.


Foi num contexto histórico de profundas alterações políticas, económicas e sociais no mundo inteiro. É, portanto, nos tempos do SEF (Programa de Saneamento Económico e Financeiro) entre nós, da Perestroika, na antiga União Soviética, e da queda do muro de Berlim, na Alemanha, que acontece, em 1989, cá em Luanda, a conquista do nosso primeiro Afrobasket sénior masculino. Viveram-se momentos de grande euforia e exaltação patriótica, pois os nossos valorosos atletas venceram o todo-poderoso Egipto por 27 pontos na final, para além de terem sido absolutamente implacáveis em todos os jogos disputados nas fases antecedentes, brindando o mundo do basquetebol com uma qualidade de jogo nunca vista nas quadras do continente africano.


Os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, marcaram a nossa estreia nesta competição, tendo, então, ocorrido uma inesperada vitória de uma jovem nação com 17 anos de independência sobre a anfitriã selecção espanhola, por 20 pontos de diferença, praticando um basquetebol com refinadíssimos requintes técnicos. A FIBA-Mundo regista este jogo com um dos 50 grandes momentos da história do basquetebol mundial (a imprensa internacional passou a tratar a equipa nacional por "Miracle Team", a equipa milagrosa).


A nossa Selecção Nacional sénior masculina é, actualmente, a terceira classificada no ranking da FIBA AFRICA, sendo, inquestionavelmente, a que melhor palmarés ostenta: conquistámos 11 medalhas de ouro em afrobasquetes, competimos em cinco jogos olímpicos - Barcelona, Atlanta, Sidney, Atenas e Beijing - e em 9 campeonatos do mundo.


Por seu lado, o nosso basquetebol feminino também tem trajectória de gloriosas conquistas para o País, que iniciou com a medalha de ouro no campeonato africano de juniores no Senegal em 1999.
Doze anos mais tarde (em 2011), em plena cidade de Bamako, sob o olhar silencioso dos gritos malianos, as nossas bravas guerreiras "chocaram" o continente, conquistando, pela primeira vez, o campeonato africano sénior feminino, derrotando, na meia-final, a equipa anfitriã e, a seguir, a todo-poderosa selecção senegalesa, então detentora do troféu.


Em 2013, na pátria irmã de Samora Machel, as nossas briosas atletas, apelidadas "Filhas de Njinga Mbandi", conquistaram, pela segunda vez consecutiva, a competição, num jogo de grande emoção que Angola venceu graças ao carácter e à grande vocação vitoriosa das nossas bravas meninas, aliás, características comuns deste povo nobre e generoso.


Não há dúvidas de que esse trajecto de mais de 30 anos de ininterruptos sucessos desportivos do basquetebol angolano em África e no mundo proporcionou a divulgação de uma imagem positiva do povo angolano além-fronteiras, sendo um reflexo de gente corajosa e gloriosa capaz de superar as enormes barreiras impostas por um longo e injusto conflito armado e pelo subdesenvolvimento.


Decorridos 47 anos de liberdade e total soberania, não é uma obra de mero acaso que Angola seja, actualmente, reconhecida, unanimemente, como o "País do basquetebol em África", sendo esta uma conquista de um punhado de valorosos e briosos cidadãos que, desde a alvorada, desde o primeiro momento que emergimos como uma nação livre e independente, sem quaisquer hesitações, se entregaram de corpo e alma, vertendo sangue, suor e lágrimas, na frente desportiva em prol do florescimento e da consolidação deste grandioso País no contexto mundial das nações. Honra e glória a todos vocês, eternos heróis da nossa pátria!


*Jurista, Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga