Património comum de mais de 280 milhões de falantes, esta língua que nos une, a mais falada no hemisfério sul, é a língua da primeira globalização da era moderna, estando na origem de um grande encontro cultural e civilizacional, com uma marca directa e indirecta e influências de (e para) muitas outras línguas no mundo... Património comum dos países de língua oficial portuguesa, o que é por si só uma declaração viva de diversidade! Também nós unidos na diversidade.

O seu crescimento imparável, reflexo da aposta de muitos e muitos no futuro do português, passa também no seu cada vez maior uso enquanto língua de comunicação na internet, espaço virtual onde é hoje a quinta mais falada, ou nas redes sociais em que será a terceira ou quarta mais utilizada, sinais inequívocos da sua vitalidade e juventude. Uma projecção tanto mais extensa pela sua natureza pluricêntrica, descentralizada e sem "donos" e que se vê enriquecida no dia-a-dia com a múltipla diversidade das suas variantes.

Importa recordar que foi a 25 de Novembro de 2019 que a UNESCO proclamou o dia 5 de Maio como o DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA. Trabalho da diplomacia de todos os países lusófonos que importa reconhecer e uma distinção que somente havia sido concedida às línguas oficiais de trabalho das Nações Unidas. Mas importa recordar que, já em 2009, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) havia estabelecido este dia para celebrar o idioma e as culturas lusófonas.

Um dia que desde então nos marca a todos os falantes do português e que este ano é assinalado em 44 países com mais de 150 actividades, com comemorações em todas as regiões do mundo, abrangendo as dimensões geográfica, da investigação, de tradução, da ligação a outras artes e de mobilização das populações, uma preenchida agenda de conferências, colóquios, concertos, concursos literários e de poesia e iniciativas académicas.

Na minha vida diplomática já o comemorei em vários países, já constatei a força da Língua Portuguesa e o interesse de tantos pelas culturas lusófonas. E agora em Angola, que com o Brasil, cada vez mais será um motor para tornar esta língua global. Uma língua global, do mundo para o mundo, que é hoje ensinada em quase oito dezenas de países que não se limitam aos lusófonos, mas a todos aqueles que, pelo planeta fora, apostam no português como língua estrangeira de futuro, ampliando a comunicação nas ciências, nas artes, na investigação, na saúde ou na economia.

Talvez não seja ainda chegado o momento para celebrar este dia "lado a lado", como todos desejaríamos, com um abraço fechado com todos os lusófonos e outros que reconhecem a sua riqueza, dado o contexto em que globalmente vivemos, mas queremos continuar a marcar esta data que, com ou sem pandemia, nos une e a mobilizar todos os amantes da nossa língua comum, como fizemos com o recente lançamento da iniciativa #mandaumpoemaaocamoes em que desafiámos as pessoas a escreverem ou declamarem um poema em língua portuguesa divulgando-o nas redes sociais do Instituto Camões. Que bom que foi receber poemas de poetas de todos os países da lusofonia, também declamados por pessoas que, não a tendo como língua materna, se atrevem a usá-la para exprimir sentimentos. Uma língua que tem cada vez mais um valor económico, uma língua de Cultura, de Diplomacia, de Negócios e de Paz.

Em Lisboa, neste formato misto entre a dimensão física e virtual a que todos nos temos vindo a habituar, o Dia Mundial da Língua Portuguesa contou com uma sessão comemorativa que, nas palavras do Ministro Augusto Santos Silva irá celebrar a projecção global e os múltiplos usos de uma "língua que é dos moçambicanos, dos brasileiros, dos angolanos, dos são-tomenses, dos guineenses, dos cabo-verdianos e dos timorenses".

Aqui em Angola, a Embaixada de Portugal e o Centro Cultural Português, em colaboração com outra grande instituição de promoção e divulgação da Língua Portuguesa, o Centro Cultural Brasil-Angola, e a Embaixada do Brasil apresentaram as Jornadas da Língua Portuguesa. Tendo como tema central "Linguagem & Literaturas: o Português em Trânsito", juntaremos ao longo de 3 dias escritores, académicos e músicos de Portugal, Angola e Brasil em seis painéis de debate virtual em torno desta Língua que nos Une.

E com a esperança que já vamos conseguindo vislumbrar ao fundo do túnel da pandemia, faço votos para que juntos continuemos a trabalhar para promover a nossa maravilhosa língua, veículo de partilha e produção de cultura e conhecimento, não apenas para os países lusófonos, mas também - de forma crescente - para as centenas de comunidades que em todo o mundo se unem também em torno da nossa língua portuguesa.

Termino com uma curta citação da Rainha Beatriz da Suécia que disse um dia "falo em português quando estou feliz". Que a Língua Portuguesa seja também uma língua de felicidade! Do presente e do futuro.

*Embaixador de Portugal em Angola